FIGURAS DO MEU PRESÉPIO
Eis o que diz o Senhor:
«Sairá um ramo do tronco de Jessé
e um rebento brotará das suas raízes.
Sobre ele repousará o Espírito do Senhor:
espírito de sabedoria e de inteligência,
espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de conhecimento e de temor de Deus.»
Do Livro de Isaías
Caríssima/o:
Armar o Presépio com os netos é tarefa sempre nova e interpelante; cada ano traz novos motivos de interesse na escolha das figuras que vamos colocar.
Este ano, indo pelo quintal além, encontramos logo, mal pomos o pé de fora, no carreiro, o senhor José Araújo, amigo de longa data e que já ultrapassou a fasquia do centenário. Lá se ocupava no quintal do filho a preparar o terreno, a fazer as plantações; ele sachava, regava, afagava e conversava com as suas plantas. Claro que isto nada seria de extraordinário não se desse o caso de o senhor José ser cego e surdo! Parece que ainda o estou a ver com minha Mulher a colher umas uvas para a mesa:
O saco está cheio, mas vamos acolá que aquelas são especiais.
Fazendo linha recta, apalpou e cortou os cachos que tinham uns bagos deliciosos.
Pois ali fica, bom Amigo!
Figura franzina que nos dava o prazer e a alegria de nos receber no seu Convento no dia de Natal; a espera tornava-se-lhe pesada e se nos demorávamos telefonava a perguntar se tudo estava bem, que não nos distraíssemos, o chá arrefecia. Mas este não era seco, acompanhavam-no bolos de três assobios (daqueles que só os fogões das freiras sabem preparar...). Nunca nos despedíamos sem que ela nos entregasse uns mimos da horta e a prová-lo estão os chuchus que colhemos no nosso quintal este ano e são trinetos dos que nos ofereceu um Natal a Prima Graça.
Sentemo-la ali à sombra e o ar ficará mais encantador com o seu sorriso.
Quantas vezes o surpreendi a regar as plantas do quintal da Fátima! E sempre o convite para provar esta maçã, aquela pêra ou a ameixa que primeiro amadurecera. Também ainda se via uma colmeia embora despovoada... Contudo, a imagem derradeira é do nosso quintal onde se deslocou para nos visitar. Como eu andasse a plantar uns pés de azevinho que outro Amigo fez questão que trouxéssemos de Mira, o Padre Lé ajoelhou e ajudou nesta tarefa. Alguns pés pegaram e com eles ficou o vínculo reforçado a estes dois Amigos. Permita que o sente junto ao lago, senhor Prior.
E como nasceram e viveram perto e são da família, ficam também aí a Silvandira e o Samuel que boa companhia lhe hão-de fazer a conversar dos campos e das árvores de fruto do quintal que eram o regalo deste casal e... a cobiça da rapaziada!
Já agora, vou acomodar nesse banco o D. Júlio que mal o avistou riu a bom rir e atirou como se de fisga se tratasse: - Então Ribau, como estão as enguias?!
A conversa não terá fim pois para recordar há escolas, professores, padres, terras, povos e países que vistes e vivestes em comum. Se me dais licença, despeço-me e não me posso esquecer da caldeirada de pêras que o D. Júlio apanhou e prazenteiramente nos ofertou.
Não era conhecido na nossa Terra, mas não me leveis a mal que ajeite uma pedra para o senhor Abel da Pinta repousar: foi uma vida de trabalho no campo, para os lados de S. João da Pesqueira: videiras, oliveiras, nogueiras, feijão,... Era vizinho aqui no Porto, porém lá foi «descansar» para as suas quintas.
Haveis de convir que o Presépio ficou enriquecido.
Santo Natal!
Manuel