Presbíteros e diáconos,
dificuldades reais sempre superáveis
António Marcelino
O último Simpósio nacional sobre o diaconado permanente, realizado em Fátima no início do mês, trouxe, mais uma vez, ao de cima, algumas dificuldades, reais mas superáveis, entre presbíteros e diáconos, tanto a nível da relação pessoal como pastoral. Não se podem universalizar as dificuldades, mas também não se devem menosprezar, pelo clima que se pode ir criando que não é bom nem para os diáconos já em exercício, quer para os novos candidatos.
Ninguém pensava, por certo, que a restauração do diaconado na Igreja, que ocorreu passados muitos séculos, seria, sem mais, um acto totalmente pacífico. Por esta razão, se recomendou aos bispos diocesanos que preparassem o seu presbitério e as comunidades cristãs, para que pudessem compreender, desejar e acolher esta nova realidade eclesial, e fossem cuidadosos, e nunca apressados, na selecção e na preparação dos candidatos à ordenação. Além das Normas para toda a Igreja, também as Conferências Episcopais de cada país deram orientações para serem aplicadas nas dioceses que optassem por implementar o diaconado. Muita gente se interrogou sobre as vantagens dos diáconos permanentes, dado que cada vez havia mais leigos a assumir ministérios nas comunidades. Então se foi tomando consciência de que não se tratava de criar mini padres, mas de instaurar de novo na Igreja o primeiro grau do sacramento da Ordem ou do ministério ordenado, com funções próprias não repetitivas, como resposta da Igreja a novas situações, mormente no campo da pastoral da caridade e da pastoral familiar e de tornar presente na Igreja o sentido da diaconia ou do serviço, que faz parte da sua missão e muitas vezes esquecido ou subalternizado.
Na década de oitenta ordenaram-se os primeiros diáconos permanentes em Portugal e, logo então, em alguns casos com funções limitadas à liturgia da sé catedral ou à colaboração com párocos mais idosos e sobrecarregados. Nas dioceses em que aos diáconos foram cometidos serviços segundo as origens bíblicas, como servidores dos pobres e dos excluídos sociais, sem excluir outros aspectos pastorais na linha profética e litúrgica, as coisas foram rodando de outro modo. Porém, a diminuição do número de padres e a sobrecarga de paróquias atribuídas aos mesmos, levaram muitos diáconos a ser, sobretudo, colaboradores dos párocos e não tanto a ter tarefas autónomas, por encargo do bispo, de quem os diáconos dependem directamente. Este facto trouxe novas dificuldades na relação mútua, na organização das actividades, nas iniciativas desejáveis, no confronto com as comunidades que muitas vezes acabam por apreciar mais o serviço do diácono e, por parte destes, de ficarem mais presos ao altar. Dificuldades reais, mas superáveis, quando todos, presbíteros e diáconos se sentem servidores do Povo de Deus e não presos a prestígios ou a apreciações públicas.
Já é tempo suficiente para reconhecer a graça para a Igreja da restauração do diaconado. Quando todos os que receberam o sacramento da Ordem se abrem às exigências da comunhão eclesial, à unidade pastoral e à diversidade complementar dos carismas, os bispos confiarão aos diáconos o que é específico da sua missão; os presbíteros os acolherão como um bem para a sua comunidade cristã; os próprios diáconos estarão devotados à missão, de modo total e sem preferências pessoais; as comunidades crescerão na capacidade de servir os mais pobres e no acolhimento e apreço por todos os ministérios e serviços eclesiais. Então, ninguém dispensa ninguém, ninguém se sente competidor de ninguém, todos terão força interior para ultrapassar as dificuldades nas relações pessoais e pastorais. O clericalismo de séculos tanto pode vencer-se de vez como alargar-se a novas formas e pessoas. Não são esses os caminhos da renovação conciliar, mas sim os de se criarem comunidades fraternas e missionárias e de a hierarquia se assumir, de modo claro, em todos os que dela participam, como serviço claro ao Povo de Deus.