Vida bucólica
Maria Donzília Almeida
Agora que chegou o Verão e a palavra férias paira no ar como doce melodia, há que repensar os roteiros turísticos e criar novos destinos alternativos.
Sabendo que as férias são uma realidade para uma minoria de portugueses, outros contentam-se com a miragem que vão acalentando em sonhos. Para isso muito contribuem as telenovelas com os cenários paradisíacos que apresentam e a inveja que despertam aos mais desprotegidos da sorte.
Bem, mas sem irmos para destinos muito longínquos e sem grandes orçamentos para dispor, há formas de se relaxar, de se descomprimir, sem se ir para o famigerado Algarve, ou para o estrangeiro.
Atendendo ao apelo dos nossos governantes, que tal a ideia de fazermos férias cá dentro? O nosso país, apesar da sua pequenez relativa, tem ainda uns cantos e recantos de muita beleza. Quem gostar do contacto directo com a natureza, encontra aí um manancial enorme, onde pode retemperar as suas energias. O campismo é o expoente máximo desse contacto com a natureza, nas suas mais diversas formas. Portugal está equipado com uma rede alargada de parques de campismo, que permitem aos nacionais e estrangeiros conhecerem a parte menos conhecida deste torrão atlântico. De muitas maneiras, desde uma simples tenda canadiana até à mais equipada autocaravana, tudo aí tem lugar, numa convivência pacífica e multicultural.
Tenho no meu palmarés, múltiplos episódios de salutar convívio com estrangeiros, que me ajudavam a praticar as línguas que aprendera na escola.
Para as crianças é uma maneira de se expandirem, à vontade, sem a preocupação de ficarem sujas ou não. Aí tudo é informal, despem-se os preconceitos! Vi algumas pessoas curiosas em conhecer a flora e a fauna local. Cada localidade tem as suas características próprias e os parques de campismo são um repositório da fauna ornitológica local. Os campistas com a sua filosofia própria de preservar o ambiente contribuem em grande medida para o equilíbrio dos ecossistemas. É vê-los de livro na mão a tentar identificar a ave que pousou na sua tenda, originando daí a pouco um rancho de gente à sua volta.
E... acordar com o arrulhar das rolas em despique com o canto esganiçado dos garnisés? É uma sinfonia digna dos nossos ouvidos, que para ser ouvida não precisamos de nos deslocar à Casa da Música! Temo-la ali, ao virar da esquina, e que faz as minhas delícias todas as manhãs.
O grande objectivo das férias, mais do que ir para lugares exóticos e gastar balúrdios de dinheiro é sair-se da rotina e fazer coisas novas e diferentes. Pôr o cérebro a trabalhar em todos os quadrantes para assim sair retemperado, mas ao mesmo tempo exercitado para mais um ano que vem pela frente. Siga o alvitre: vá para fora cá dentro!
12.07.10