A FIGUEIRA DA ÍNDIA
A
meu Pai
a. Discreta presença, arrumada num canto muito sombrio, debaixo de ramada de videira americana, a nossa figueira-da-índia não tem ido muito longe; figos nem vê-los... Se ainda está viva e a ocupar espaço deve-o à grata memória que uma sua antepassada me deixou e à esperança de poder reproduzi-la em lugar mais solarengo ...
e. Nos longínquos idos de quarenta do século passado, tosse convulsa arreliadora se apoderou do meu dorido peito. Médicos? Medicamentos da farmácia? Privilégio de poucos...
Não sei onde meu Pai bebeu a informação mas, chegado a casa, foi-se à figueira da índia, cortou-lhe uma palma. Na cozinha, para uma bacia, cortou-a às rodelas que foi sobrepondo alternadamente com camadas de açúcar amarelo. No dia seguinte de manhã:
- Anda, filho, toma para te arrancar essa tosse de cão...Desconfiado, abri a boca e sorvi o xarope que me fez esquecer o rufar do peito!...
A tosseira foi diminuindo... e ficou a vontade de renovar a colherada do tal xarope que entretanto se extinguiu...
Não sei que aconteceu a esta benfazeja piteira; certamente a sua sorte não foi diferente de umas tantas que que por aí vegetavam e nos ofereciam os figos em troca de umas valentes picadelas!... Teimávamos arrancá-los com os dedos desprotegidos...
i. A Figueira-da-Índia é um cacto lenhoso vivaz, originário da América Central. Em Portugal é subespontânea e é cultivado em jardins e para a formação de sebes artificiais no Alto Douro, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Algarve, Madeira e Açores.
o. Por mim confesso a minha ignorância e, para além do xarope que menciono acima, desconhecia por completo que a figueira-da-índia pode ser usada:
externamente, nas dores musculares e com acção cicatrizante no eczema e psoríase ;
internamente, em tratamentos para perda de peso, de úlceras gástricas e síndroma do cólon irritável; no controlo da diabetes e do colesterol elevado.
Ainda a sua acção se nota em problemas respiratórios como a tosse irritativa ou bronquites.
u. Planta muito ligada a lendas e mitos que se estendem da América à Índia. Fiquemos por aqui:
«A figueira da Índia (Ficus religiosa) é venerada na Índia principalmente pelos sectários de Buda, não a cortando nem lhe tocando nunca com ferro, para não ofender o Deus nela oculto.
Não só a árvore é adorada mas também o local onde alguma viveu é considerado local sagrado. A veneração dos índios pelo “ficus religiosa”, é devida à seguinte lenda:
Buda, após a conversão, ia sempre orar sob aquele vegetal; a rainha, sua esposa, despeitada por aquele facto, mandou cortar a árvore, e Buda, quando o soube, sentiu tamanho desgosto que declarou que se a árvore não tornasse a rebentar morreria de pesar. Mandou depois reunir cem bilhas de leite e regar com ele o tronco do vegetal, donde logo brotaram ramos, que cresceram rapidamente, atingindo a altura que hoje tem.»
Mas já agora não resisto e transcrevo da revista AUDÁCIA o que se segue e que parece completar o que acabámos de ler:
«O ano chinês
Na China, o novo ano não começa a 1 de Janeiro, mas depende da primeira lua cheia do ano. A data é celebrada com grande festa, que dura até duas semanas.
O calendário chinês é muito antigo, tem mais ou menos cinco mil anos.
Segundo uma lenda antiga, quando Buda atingiu a iluminação à sombra de uma figueira-da-índia, convidou todos os animais a participar da sua alegria. Apenas doze animais compareceram à festa. A cada um deles foi atribuído um ano para governar (a lenda é um pouco confusa, uma vez que o Buda viveu há “apenas” 2500 anos). O calendário chinês percorre assim um ciclo de doze anos, que começa sob a regência do rato, para depois continuar com o ano do boi, do leão, do coelho..., até terminar no ano do porco, iniciando-se um novo ciclo de 12 anos.
Cada um dos 12 animais é regido pelos cinco elementos - água, madeira, fogo, metal e terra. O sistema astrológico chinês, por isso, contempla um ciclo de 60 anos. Metade é yin (feminino) e metade é yang (masculino).
Este sistema de contar os anos continua largamente difundido na China e em outros países orientais.»
Manuel