Auschwitz, a dor da memória
1. Celebra-se 65 anos do momento da abertura libertadora das portas do holocausto. A 27 de Janeiro de 1945 o mundo acordou para a confirmação do mais horrendo atentado contra a natureza humana. Quem visita Auschwitz – um milhão de visitantes por ano – faz silêncio e medita na condição humana. Nestes dias, aquelas imagens a preto-e-branco que parecem remontar a séculos atrás, fazem-nos sentir que não foi assim tão longe no tempo nem no espaço. 65 anos foi “ontem”, e foi “aqui perto”, que o inqualificável crime contra a humanidade foi meticulosamente planeado; a médio prazo num nacionalismo de um povo, a curto prazo numa “solução final” aplicada silenciosamente para quem “o trabalho liberta” (esta a frase de acolhimento à entrada do campo).
2. Jamais, como dizia uma historiadora nestes dias, compreenderemos a envolvência do que se passou, o sentir profundo do mártires e mesmo dos executantes e os gritos já sem voz da indignidade praticada em pessoas como nós, de carne e osso. Auschwitz apela em nós a profunda meditação e a necessidade sempre urgente de não apagar a memória para que ninguém esqueça… Os campos de concentração fazem parte do património comum da humanidade, mas de que humanidade? Da desumanidade para que a humanidade cresça e medite nas dores desta memória construída no centro do ocidente. Recordo de uma entrevista de um antigo militante da Al-Qaeda; ele lembrou que a pior dor humana continua a estar no holocausto criado pelas ideologias ocidentais.
3. Um pensamento de tanto que tem sido dito e que nos ficou é que «o holocausto é o lado mais negro da alma europeia». Não apagar a memória, mas meditar nas suas dores como aprendizagem, é um lema bom para o desenvolvimento justo dos povos. Mas persiste um hiato na comunicação mundial actual, mensagens tão sérias e iluminadoras que não passam; ilusões e ideologias extremistas que parecem ressurgir… Porquê?!