1. A quadra, nas propostas aliciantes de consumo, é de forte apelo à quantidade. Não faltam em todos os escaparates as mil e uma ofertas com as mais variadas vantagens para outras tantas situações em que o gerar do hábito e da necessidade é a arma mais poderosa. Ninguém está obrigado a comprar, é certo. Mas a designada sociedade de consumo tem neste mês o pico mais visível. A necessária educação para o consumo, no pressuposto lógico da “liberdade de comprar”, tem nestas quadras razões maiores para se justificar, mas estas são precisamente as alturas em que, mesmo sem qualquer generalização, a reflexão sobre os hábitos de consumo mais se manifesta infecunda. Gilles Lipovetsky, autor da Era do Vazio, na sua obra Felicidade Paradoxal (2008), bem tentou compreender os contornos do hiper-consumo.
2. A sobriedade nos tempos actuais reveste-se como um valor fundamental, pois ela traz consigo o importante discernimento entre aquilo que é o essencial e o que é o supérfluo que não interessa, o demasiado que atrapalha, fecha, cega e limita. Como reage uma criança diante de um castelo de prendas? Claro que diante dessa montanha russa de presentes deseja ao menos uma para sua satisfação! Sendo natural, não se pode deixar que a reflexão sobre os hábitos de consumos seja ela própria uma rotina em ciclo fechado. As desvantagens do exagerado e as vantagens da sobriedade simples que dá valor ao essencial e dá sentido à vida, precisam de ser destacadas. Como a onda que cresce, a publicidade incendeia o destinatário e o fermento gerador da necessidade cresce a ponto de gerar exclusões de consumo…
3. Tornando-se importante uma reflexão actualizada sobre o lugar da prenda de Natal (Natal?), sublinhe-se a urgência das idades maiores ajudarem os mais novos a pensar sobre as razões da festa e o porquê da necessária sobriedade de vida… A idade infantil actual não pode ser o novo deus intocável, descartada de qualquer índice de hábitos de sobriedade e simplicidade.
Alexandre Cruz