Involução docente
Com a evolução dos tempos, há a necessidade de o cidadão comum se adaptar às novas realidades. Se isto se aplica a qualquer sector de actividade, com mais premência se aplica à vida docente.
Com uma formação académica centrada numa componente específica do saber, esperar-se-ia que o professor se dedicasse ao seu mister, não extravasando o domínio da sua área curricular.
Isto passava-se, antigamente, em que cada saber estava a cargo do seu detentor, sem que o professor metesse a foice em seara alheia.
Era assim, na mesma época em que as estações do ano estavam bem definidas, antes de as alterações climáticas terem destruído essa harmonia. Num qualquer Outono de meados do século passado, todos sabíamos que urgia reordenar o guarda-fatos e guardar para uma hibernação de alguns meses, as roupas da estação cessante – o Verão.
Hoje, no ano da Graça de 2009, em pleno século XXI, se por um lado o conhecimento tende a especializar-se e cada um tende a saber o máximo num campo, cada vez mais restrito, aparece algo de paradoxal com a profissão docente. A esta estão atribuídas funções de pai, amigo, médico, psicólogo, animador cultural, etc, etc. O mais surpreendente e inesperado é a sua função emergente de baby-sitter que integra a nova carga horária de qualquer interveniente, na acção educativa!
Quando falta o professor da disciplina, lá vai o baby-sitter de serviço, que a Escola moderna tem sempre em reserva. Nunca as nossas criancinhas foram tão bem tratadas (!?), “domesticadas”, vigiadas por pessoal especializado e tão competente! Noutros tempos, era uma alegria quando, raramente, um professor faltava; hoje, nenhuma das crianças que frequentam as nossas escolas, fica entregue a si própria, pode pôr o pé em ramo verde! Com toda esta vigilância, este acompanhamento próximo da perseguição detectivesca, pensarão alguns, esperar-se-ia uma sociedade perfeita, cumpridora de regras, bem formada e informada!
Hoje, no contexto da Escola actual, quase todos os professores têm, na sua carga horária, uma parte dedicada a esta actividade: baby-sitting!
Há uma tendência inata do ser humano, para reagir, negativamente ao que lhe é imposto, ao que tem um carácter obrigatório, daí, o dito jocoso sobre a utilidade das leis! “Servem para ser violadas”!
E, se já tanta coisa é imposta aos estudantes, como uma carga horária excessiva, logo contraproducente, porquê enclausurá-los numa sala de aula, tal qual uma prisão, quando um professor falta?
O prazer do “furo”, do aliviar da carga lectiva, a sensação de uma “liberdade condicional”, em tempo de cumprimento de deveres, seria sem dúvida algo que ajudaria a descomprimir, a expandir energias aprisionadas, a vivenciar e aprender o sabor da liberdade!
E...parafraseando o poeta ”Ai que prazer não cumprir um dever/ Ter um livro para ler e não o fazer...”
Imposto, imposto......é o que se paga ao estado sem se lhe poder fugir e o PNL (Plano Nacional de Leitura) que quer, à viva força, que todos leiam, nem que seja a toque de campainha!
M.ª Donzília Almeida
14 de Dezembro de 2009