terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Crónica de um Professor



Nome próprio

Com uma caterva de nomes pela frente, duma assentada, é um desafio para a memória, já fustigada pelas intempéries da vida e pelo desgaste natural da idade. Aflora à memória, selectiva agora, aquela frase que traduz tão bem a ideia – Viver todos os dias... cansa!
É o que acontece a qualquer professor, no início de mais um ano lectivo, quando lhe são atribuídas as turmas que compõem o seu horário. Tantos alunos diferentes com nomes tão variados, alguns copiados das mais diversas fontes, alguns, das telenovelas que correm, na altura do seu nascimento. Permeáveis às influências que vêm de fora, aparece uma panóplia de nomes que dariam para um estudo muito interessante.
A juntar a tudo isto, aparecem nomes estrangeiros de origem anglo-saxónica, kevin, Cindy, Nicholas, que até dão uma nota de realismo e multiculturalidade, às aulas de Língua Estrangeira.
Tudo isto convém ser memorizado pelos professores, se não querem imitar os seus colegas do século passado que, tanto nas Escolas, como noutras instituições públicas, tratavam as pessoas por números! Já lá vai esse tempo da redução das pessoas à condição de dígitos!
E, se o nome duma pessoa, é a palavra mais doce para os seus ouvidos, em qualquer idioma, como defendia Dale Carnegie, há mesmo a obrigação de ser tratada assim. Mais dizia o referido americano, patrono das Relações Humanas que todos deveríamos tratar as pessoas pelo nome, sempre que cumprimentamos alguém, ou nos dirigimos a essa pessoa por qualquer motivo É uma forma de cativar e estreitar laços que podem tornar-se muito favoráveis no relacionamento humano. Ainda recordo a forma bizzarra como se faziam entender as pessoas, noutros tempos, em que se queria interpelar alguém cujo nome se desconhecia. - Olha, tu que fumas! Claro que não se estava a nomear um fumador, nem havia nessa altura a discriminação dos fumadores, nem a sua e erradicação para lugares restritos.
Foi numa das suas rondas pelas coxias da sala, que a teacher admoestou aquele aluno e o chamou à realidade do que se passava na aula.
Não, não me chamo João! Ripostou categoricamente o RV, cioso do seu direito ao nome próprio. Para esta gente que ainda não gastou o seu nome, nas liças da vida, é uma afronta trocarem-lho! Sem ter qualquer fixação pelo nome João, apenas tem para a teacher, o valor de um nome verdadeiramente português, a par de José, António, Manuel,etc. Daí a invocação frequente do João da Esquina!
Foi difícil para a mestra levar a sério aquela reprimenda, pois a carinha laroca, redondinha como a lua cheia, num palminho de corpo que pareceu arrebatado ao recreio de um jardim-escola, não intimidava!
É uma reacção frequente, em meio escolar de gente miúda, quando o professor, no meio de tantas caras novas, lhes troca a identidade.
São pequeninos, mas muito senhores do seu nariz, ou seja do nome de baptismo pelo qual são reconhecidos no mundo dos adultos.
E... atesta Dale Carnegie, o nosso nome é música para os nossos ouvidos...especialmente quando proferido por alguém... que nos é muito querido!

M.ª Donzília Almeida

09.11.11

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