D. Carlos gostava de histórias e do exemplo que são. Esta contava-a ele e, depois, contava-se dele. O rei fora visitar um manicómio. À hora marcada, chegou gordo, louro e solene. Estavam a recebê-lo ministros e médicos. Os loucos olhavam-no à distância, muitos deles não percebendo sequer quem era aquele que viam. Até que, quando cumprimentava e fazia perguntas, se chegou junto dele um doente que tinha conseguido furar o cordão que protegia o monarca. Era um homem de meia-idade.
Dirigiu-se ao rei com modos reverentes (fez uma vénia) e palavras respeitosas (Majestade, Meu Senhor), pedindo compreensão e clemência. Contou que estava preso naquele hospício por uma escura maquinação da família, que assim lhe tinha ficado com os bens e lhe gastava a fortuna. Fixou D. Carlos com os olhos serenos e sinceros, exclamando: "Eu não estou louco! Sou um homem são e só Vossa Majestade me pode salvar, ordenando que se faça justiça."
José Manuel dos Santos
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