Assim ele tinha a paixão dos objectos,
conchas, rodas, ramos secos, utensílios,
coisas aparentemente desmembradas e soltas,
que encontrava ao acaso em ferros-velhos,
pequenas lojas escuras, vãos de porta, recantos poeirentos,
ou apanhava do chão quando passava,
entre vagos montões de sucata ou de lixo,
e depois se transformavam
quando ele lhes encontrava na casa um local certo,
porque conhecia a sua identidade profunda,
o rosto oculto que elas não revelavam facilmente.
Deixava-as vir devagar à superfície de si próprias,
as suas mãos eram sempre pacientes com as coisas,
e também o olhar que descobria a sua intimidade
e a partir delas as combinava,
porque nem todas se entendiam entre si,
era preciso estar atento às suas afinidades ou
disparidades, mesmo às menos evidentes.
Mas ele tinha o segredo da harmonia.
Teolinda Gersão (n. 1940)
"A beleza não está nas coisas, mas em quem as vê!" Disse alguém...e eu corroboro em absoluto. Todos os objectos enumerados no poema, aparentemente desconexos e sem beleza teriam a beleza dos olhos que as observavam. Quando foram referidas as conchas...revi-me, pois acho um encanto muito especial nestas coisinhas que o mar tão generosamente nos oferece! E os burgos arrojados na praia, na maré vaza? Que delícia para os olhos! Todos os dias "roubo" alguns, que disponho a meu bel prazer, no jardim.
ResponderEliminarSou uma aficcionada por coisas marinhas!