Solidariedade
Encontrar um lugar de estacionamento, numa zona balnear, onde o farol é ponto cardeal, dir-se-ia que é como procurar agulha em palheiro.
Na verdade, com a multidão de gente que aflui a esta praia, torna-se quase uma aventura encontrar uma nesga de terreno, onde deixar arrumado o veículo que nos trouxe até ao destino. Não há parques de estacionamento disponíveis para as necessidades do tráfego que entope, nos meses de verão, as artérias de toda a zona costeira. Não estará a autarquia muito preocupada em sanar o problema, pois não consta da carta de intenções, agora tão profusamente propalada, numa época de fervor eleitoral. Sendo que a grande massa de veraneantes e ou banhistas que desaguam neste mar, são forasteiros que vêm à procura deste sol, em terras planas e arejadas, não parece estar na lógica eleitoralista da edilidade camarária, o alargamento da rede viária, nem tampouco, a criação de espaços alternativos de estacionamento.
Primeiro estão os munícipes que urge satisfazer... nomeadamente em períodos concretos como estes de febre eleitoral. Esperemos por melhores tempos, associados a mais amplos propósitos e que, por arrastamento, também trazem benfeitorias para a própria região.
Foi num contexto de grande dificuldade em arrumar, condignamente, o seu carro, que a autora destas linhas se defrontou com a situação que passa a descrever. Num pseudoparque de estacionamento em terra batida, mas muito empoeirada, circulava devagar, na mira de vislumbrar algum buraquito no meio de tanta chapa automóvel. A certa altura, observa o estacionar de um veículo que numa manobra de economia, daria para dois carros. Fica parada em frente do condutor, lançando subliminarmente o pedido de lhe facultar um pouco do seu avantajado espaço de estacionamento. Se a telepatia funciona ou não, não sabe, mas a resposta não se fez esperar e mais que depressa se vê o senhor fazer manobras para arrumar melhor o seu veículo. Aquele tão almejado lugar de estacionamento surgia como por milagre daquela troca de olhares, um de súplica (!?), outro de compreensão e generosidade. Mesmo atrás de uns óculos escuros que o sol escaldante impunha, houve entendimento e do bom, do positivo! Depois de sair do seu carro, o emigrante francês, ainda concedeu a sua ajuda a estacionar o outro veículo, que ali coubera. Depois de um profuso e sentido agradecimento, cada qual dirigiu-se para o recanto da praia que mais lhe convinha, mas aquele gesto de solidariedade ficara bem gravado na memória daquela veraneante.
Regressada da praia, ainda com o sol alto e a dardejar, neste dia escaldante de Agosto, sem a nortada característica da época, teve um relance! Ia deixar-lhe preso, na escova do limpa pára-brisas, uma nota de agradecimento – Merci! A falta duma caneta ali, à mão, não constitui óbice à realização do seu propósito. Uns banhistas, a sair do parque, deram a ajuda para a concretização do seu gesto.
Apesar de ser um dever cívico, de cidadania, pensarmos nas necessidades dos outros quando estacionamos o nosso veículo, deparamos, a cada passo, com o egoísmo atroz daqueles que olham só para o seu umbigo e para o seu carro e quantas vezes ocupam um espaço que daria para uma limousine! Todos têm direito a um lugar... ainda que seja um modesto Honda com música Jazz!
Na verdade, é imenso o prazer e gratidão que sente perante atitudes deste jaez! E... este emigrante em França, ao longo das vicissitudes por que passou na sua odisseia, por certo aprendeu, bem fundo, o sentido da partilha que tão ostensivamente ali, demonstrou. Merci beaucoup, mon ami!
M.ª Donzília Almeida
13.08.09