Os vencedores
A abstenção é fruto da falta de cultura política
Ontem, na hora de votar, cruzei-me com uma pessoa amiga, com curso superior. Mostrando uma ignorância política absoluta, questionou-me assim: Afinal que eleições são estas? Serão assim tão importantes? Que ganhamos nós com isso?
Com os resultados conhecidos, dei razão àquilo que já sabia. Somos bons políticos para dizer mal de tudo, para criticar opções governamentais, para contestar as posições dos partidos políticos, para lutar encarniçadamente contra reformas, para contestar quem quer acabar com privilégios, mas, no fundo, há uma grande ignorância a muitos níveis e um grande egoísmo na cabeça de gente que podia olhar o mundo com espírito solidário.
A abstenção, vivida muito entre nós, é fruto dessa falta de cultura política e dum desinteresse geral pelo que à sociedade, no seu todo, diz respeito. O bem comum, que deve sobrepor-se aos interesses individuais e de classe instalados, tem que ser ensinado e treinado desde tenra idade. Doutra forma, corremos o risco de alimentarmos gente abúlica, sem opiniões criativas, sem gosto pela inovação, sem sentido estético, sem capacidade solidária e sem gosto pela política.
Sobre os resultados eleitorais, está tudo dito. Ganhou o PSD e perdeu o PS. Mais concretamente: Ganhou Manuela Ferreira Leite e perdeu José Sócrates. Enquanto o PS desceu, todos os partidos da oposição subiram.
O PS insiste na ideia de que estas eleições eram para o Parlamento Europeu e que nada tinham a ver com a governação. Penso que está enganado, pese embora a má escolha de Vital Moreira feita por Sócrates. O povo que foi votar é o que nunca falta. Sabe bem o que quer. O povo que vota tem sempre razão. O que falta não tem razão nenhuma. Nem tem o direito de criticar seja o que for, embora tenha a liberdade de viver indiferente à causa pública.
Nessa altura, quando pega no boletim do voto, sente-se com o poder que a democracia lhe dá. E também sabe que, protestando, e muitas vezes o faz, raramente é ouvido. Mas na hora das eleições ele sabe que, com o seu poder, pode reorientar a história.
Será que Sócrates aprendeu a lição? Não sei. O tempo o dirá. Porém, os portugueses sabem bem o que querem, sobretudo o povo que sofre no dia-a-dia, o que não tem privilégios, nem regalias, nem ordenados dignos, nem trabalho garantido, nem pensões de reforma milionárias, nem carros de luxo, nem férias de sonho, nem pão para matar a fome a filhos…
O povo que vota sabe muito. E quando quer, pode mudar tudo ou não.
Fernando Martins