segunda-feira, 8 de junho de 2009

O povo que vota sabe muito. E quando quer, pode mudar tudo ou não

Os vencedores
A abstenção é fruto da falta de cultura política
Ontem, na hora de votar, cruzei-me com uma pessoa amiga, com curso superior. Mostrando uma ignorância política absoluta, questionou-me assim: Afinal que eleições são estas? Serão assim tão importantes? Que ganhamos nós com isso? Com os resultados conhecidos, dei razão àquilo que já sabia. Somos bons políticos para dizer mal de tudo, para criticar opções governamentais, para contestar as posições dos partidos políticos, para lutar encarniçadamente contra reformas, para contestar quem quer acabar com privilégios, mas, no fundo, há uma grande ignorância a muitos níveis e um grande egoísmo na cabeça de gente que podia olhar o mundo com espírito solidário. A abstenção, vivida muito entre nós, é fruto dessa falta de cultura política e dum desinteresse geral pelo que à sociedade, no seu todo, diz respeito. O bem comum, que deve sobrepor-se aos interesses individuais e de classe instalados, tem que ser ensinado e treinado desde tenra idade. Doutra forma, corremos o risco de alimentarmos gente abúlica, sem opiniões criativas, sem gosto pela inovação, sem sentido estético, sem capacidade solidária e sem gosto pela política. Sobre os resultados eleitorais, está tudo dito. Ganhou o PSD e perdeu o PS. Mais concretamente: Ganhou Manuela Ferreira Leite e perdeu José Sócrates. Enquanto o PS desceu, todos os partidos da oposição subiram. O PS insiste na ideia de que estas eleições eram para o Parlamento Europeu e que nada tinham a ver com a governação. Penso que está enganado, pese embora a má escolha de Vital Moreira feita por Sócrates. O povo que foi votar é o que nunca falta. Sabe bem o que quer. O povo que vota tem sempre razão. O que falta não tem razão nenhuma. Nem tem o direito de criticar seja o que for, embora tenha a liberdade de viver indiferente à causa pública. Nessa altura, quando pega no boletim do voto, sente-se com o poder que a democracia lhe dá. E também sabe que, protestando, e muitas vezes o faz, raramente é ouvido. Mas na hora das eleições ele sabe que, com o seu poder, pode reorientar a história. Será que Sócrates aprendeu a lição? Não sei. O tempo o dirá. Porém, os portugueses sabem bem o que querem, sobretudo o povo que sofre no dia-a-dia, o que não tem privilégios, nem regalias, nem ordenados dignos, nem trabalho garantido, nem pensões de reforma milionárias, nem carros de luxo, nem férias de sonho, nem pão para matar a fome a filhos… O povo que vota sabe muito. E quando quer, pode mudar tudo ou não. Fernando Martins

1 comentário:

  1. No meu conceito de democracia, qualquer governo que durante a campanha eleitoral promete governar num determinado sentido e depois da votação, uma vez chegado ao poder procede exactamente ao contrário deveria ser imediatamente demitido e marcadas novas eleições, por falta de honestidade e de legitimidade para prosseguir a sua governação. Tal situação deveria ser até considerada na própria constituição da república.
    É conhecido que os partidos fazem promessas durante as campanhas eleitorais que acabam por não cumprir, mas o PS inovou neste aspecto: prometeu, os eleitores deram-lhe o voto em virtude dessas promessas e depois quando chegou ao poder com maioria absoluta tratou de fazer exactamente o contrário do prometido, por isso não deve admirar-se do resultado destas eleições.

    Zé da Burra o Alentejano

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