MATER DOLOROSA
Foi o texto poético da sua prova de exame de Português, do 5.º ano do liceu. “Mater Dolorosa” de Gonçalves Crespo havia de se tornar uma evocação recorrente, no percurso da sua já longa vida.
Retratando, de forma sublime, a dor da separação, na época dos Descobrimentos, este texto, repassado de dramatismo e epopeia, coloca a mulher no seu mais elevado pedestal - no papel de mãe!
A estrutura do morfema m-ã-e, composta por duas vogais e apenas uma consoante, confere, à palavra, a fluidez, a transparência, a leveza da água cristalina. Também esta, água, possui três vogais que dão limpidez e leveza ao significante.
Assim acontece com a palavra mãe! Mas... pai comunga das mesmas virtudes! Ambas são monossílabos sim, mas carregados de significado, ricas de conotações! Ambas andam de mão dada, na sua composição mórfica, como seria desejável que ocorresse também, na vida das pessoas!
Mais uma vez se questiona sobre a razão de ser, de um dia dedicado às mães! Não estão estas sempre no exercício do seu papel? Alguma vez se demitem das suas funções, desde que trouxeram ao mundo a razão que as fez subir ao altar do sacrifício? Não conhece nenhuma que não tenha sentido o sabor do sofrimento, da dor... desde os primeiros frémitos de vida que sentiram ainda no seu ventre. A partir daí, é um somatório de canseiras, de cansaço, de consumições! Será porventura o verbo mais vivenciado por uma mãe, sofrer!
Ela ali está para amparar o filho nos primeiros passos... nos primeiros sonhos... nas primeiras decepções!
Mas, a alegria de se rever no novo ser, em si gerado, é a suprema compensação de todas as suas lágrimas.
Recorda, ainda, a primeira prenda que ofereceu à sua mãe, mal começara a despertar para a vida! Era ainda uma adolescente, nos primórdios da sua vida académica, quando a efeméride, na altura comemorada em simultâneo com a da Imaculada Conceição - 8 de Dezembro, lhe tocou, bem fundo. Lá está, intacta, arrumada na estante, aquela bomboneira dum azul ferrete, a atravessar décadas de existência.
Este ano, a prenda será imaterial, apenas um profundo sentimento de elevação, perante a memória de mais uma heroína... que se finou no mesmo dia de “n” vítimas das Twin Towers, no 11 de Setembro, nos Estados Unidos da América! Paz à sua alma!
Mª Donzília Almeida
01.05.09