Sobre a origem da escrita:
«Será Deus que escreve pela nossa mão?»
Sobre a origem da escrita e da inspiração literária, interrogava-se em entrevista recente António Lobo Antunes:
"Até que ponto o livro é do autor ou ele foi apenas um meio de que o livro se serviu para existir? É um problema que sempre se me pôs enquanto leitor em relação aos grandes livros. A Guerra e Paz é feita pelo Tolstoi ou através do Tolstoi? A grande literatura, a grande pintura e a grande música é feita pelos autores dos livros, dos quadros ou das sinfonias ou por uma outra entidade que, por hipótese, é comum a todos e que toma diferentes tonalidades consoante a personalidade?" – Mas que outra entidade é que poderia ser? – perguntou-lhe o entrevistador – "Não sei, será Deus que escreve pela nossa mão?" (DN, 16.02.2009)
Escreveu P. António Vieira: "O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porquê nem para quê. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido. Quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, só esse é fino."
Paulo Pires do Vale
In Pastoral da Cultura