domingo, 4 de janeiro de 2009

ROSTOS - Júlio Cirino

Uma vida dedicada ao Atletismo com muita paixão 




Quando contactei o Júlio Cirino, estava ele a chegar de uma viagem à Guiné-Bissau, onde se deslocou na qualidade de formador de treinadores de Atletismo. Antes, andou por Espanha, Hungria e Croácia, entre outros países. Em breve irá a Cabo Verde e Angola. 
Membro da IAAF – Federação Internacional de Atletismo Amador, dá o seu contributo do muito que sabe, ensinando alunos universitários e treinadores de Atletismo, sobretudo na área dos Lançamentos, de que se tornou especialista, no país e no estrangeiro. 
Júlio Cirino esteve ligado à FPA – Federação Portuguesa de Atletismo, entre 1997 e 2007, como treinador nacional de Lançamentos. Presentemente, é colaborador da mesma federação, para os sectores do Peso e Disco, abrangendo jovens com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos. 
Em conversa com o Júlio, percebe-se facilmente a sua paixão por este desporto, paixão que começou ainda jovem, como atleta de meio-fundo, sobretudo nos 1500 metros obstáculos. Chegou a ser detentor do recorde nacional dos 1000 metros, no âmbito escolar, com a marca de 2’ 41’’, mais tarde batido pelo Fernando Mamede, com 2’ 39’’. 
A sua grande campeã foi Teresa Machado (de que falaremos em breve), possuidora de um palmarés invejável, tanto em Portugal, como nos campeonatos da Europa, do Mundo e nas Olimpíadas. Mas não se pense que o fim da carreira desta atleta corresponde ao fim da paixão do Júlio Cirino. Aposentado da sua actividade profissional, não está conformado e continua à procura de potenciais campeões. Hoje, tem sob sua orientação sete atletas no Peso, Disco e Martelo. E diz, com a certeza de quem conhece do que fala, que todos eles poderão vir a participar em competições internacionais, “ao mais alto nível”, se forem “persistentes e se seguirem as suas orientações”. 
Na altura em que começou no Atletismo, não havia na Gafanha da Nazaré qualquer clube que se interessasse por esta modalidade desportiva. E no Distrito de Aveiro, em 1966, só havia o Estarreja e o Espinho, o que o levou a recorrer ao primeiro, para poder praticar o desporto da sua eleição. Mais tarde, recebe convites do Benfica, do Sporting e do Futebol Clube do Porto, optando por este último, por ser o que ficava mais à mão. Neste clube, conseguiu alguns recordes do Norte, em 1500 metros obstáculos. 
A tropa, cumprida em Lisboa, levou-o a virar uma página na sua vida desportiva, optando por aprender com o mítico Prof. Moniz Pereira. Desse mestre, diz que colheu frutos “fundamentais para a sua função de treinador”, como “A pontualidade, a disciplina que impunha e a teimosia que o levava a chegar onde queria”. E recorda uma célebre frase ouvida ao mestre: “Se dispensassem os atletas das suas ocupações profissionais, da parte da manhã, os resultados do nosso Atletismo seriam outros.” À sombra desse princípio, Carlos Lopes começou a mostrar a sua têmpera de campeão, dando enormes alegrias aos portugueses. 
Sobre o trabalho desenvolvido na Gafanha da Nazaré, Júlio Cirino lembra que, em 1972, a convite de João Fidalgo e de José Alberto Loureiro, dirigentes do Grupo Desportivo da Gafanha, aceita colaborar como treinador. Um mês depois, já tinha 87 jovens, entre os 10 e os 16 anos, a treinar no campo do Forte. E sublinha: “O recrutamento foi feito através do TIMONEIRO; batíamos à porta das famílias, para se obter autorização, e os treinos começaram, com muito entusiasmo.” “Por falta de energia eléctrica, os treinos não podiam continuar a partir de Novembro. Mas com a colaboração do Padre Domingos, prior da Gafanha da Nazaré, foi possível utilizar o salão paroquial. A seguir, passámos ao Mercado. E com a iluminação do campo do Forte, voltámos de novo para lá”, esclarece.
Reconhecendo que pela sua vida de treinador já passaram mais de 1000 atletas, Júlio Cirino frisa que a Teresa Machado foi a sua campeã mais credenciada. Apareceu-lhe, em 1986, por indicação do Leopoldo Oliveira, ao tempo professor de Educação Física. Informado das potencialidades da Teresa, soube orientá-la, levando-a a obter resultados nunca antes alcançados por atletas gafanhões, em especial nos Jogos Olímpicos de Barcelona, Atlanta, Sydney e Atenas, que o nosso entrevistado teve o prazer de acompanhar. 
Paralelamente à sua actividade de treinador, Júlio Cirino participa em inúmeros congressos, seminários e acções de formação, nacionais e internacionais, tanto para aprender como para ensinar, como o atestam os muitos diplomas, medalhas e troféus. Diz que ao longo da vida aprendeu bastante pelo estudo e pelo convívio directo com grandes treinadores, de que destaca, para além de Moniz Pereira, Raimundo Fernandez, espanhol, que o levou a acompanhar, de perto, a selecção cubana de Atletismo, e Renato Carnevali, um italiano que o ensinou a planificar treinos intensos e curtos, que conduzem a excelentes resultados. 
Júlio Cirino já escreveu dois livros: um sobre “O Corredor de Meio-Fundo – Fundamentos Gerais” e outro sobre “Fundamentos Gerais do Treino para Lançadores”. Na forja está “O Lançamento do Peso – da Iniciação ao alto Rendimento”. E tem ainda, em preparação, “Histórias da Minha Terra”, o seu primeiro trabalho fora da área desportiva. Fernando Martins 


Nota: Texto publicado no TIMONEIRO

5 comentários:

  1. Parabéns ao Júlio Cirino pela sua carreira no campo do desporto.
    Um abraço

    João Marçal

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  2. Grande atleta, Grande treinador e acima de tudo, Grande Gafanhão.
    Também tive o previlégio de ser treinado pelo Júlio Cirino, mas acima de tudo tenho a grande alegria de ser seu amigo.
    Parabéns pela grande carreira e que o novo livro venha depressa.

    Leopoldo Oliveira

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  3. Engraçado..já não via esta cara há anos...a recordação que tenho de outros tempos é de vê-lo sempre a correr fizesse chuva ou sol

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  4. Gosto dele. Parece e é uma pessoa educada, profissional e respeitadora. Um abraço.

    FM (filho) ;)

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  5. Boa iniciativa a de homenagear esta personalidade. É um facto que nem sempre é fácil encontrar sensibilidade, nas sociedades locais, para dar o devido valor ao percurso trilhado por alguém como o grande mestre, Júlio Cirino. Uma referência para todos.

    Os "imitativos" estão para o lançamento do peso, da mesma forma que o atletismo ou o desporto está para a vida em sociedade. É tudo uma questão de fazer o chamado "transfer".

    Um abraço
    Renato Duarte

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