domingo, 5 de outubro de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 97

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O DESENHO
Caríssima/o: Sinceramente, para mim, assunto a esquecer! Desenho!? (Agora é 'educação visual' ou 'EV'...) A nossa escolaridade decorreu no período pós Segunda Guerra Mundial: penúria, tristeza, cinzento. Os lápis de cor eram em caixinhas de meia dúzia, curtinhos e tinham de ser poupadinhos para todo o ano. Os livros eram a uma só cor, apenas o de leitura se dava ao luxo de ter imagens coloridas... Os professores não nos mandavam ilustrar os nossos escritos, o desenho era outro: desenhar um copo, um funil, uma caneca... Isto nem tem nada de extraordinário, só que se o traço saía do trilho devido era a desgraça: a borracha era dura como pedra e não apagava, borratava e tanto mais quanto mais se teimava... até ao desastre final que era a folha rasgada! E agora? Mas o que mais irritava é que o Armando pegava no lápis e, sem a mínima dificuldade, em menos de um 'já', tinha o vaso desenhado e com uma flor! Bem olhava para a mão dele e para a cara, mas aquilo saía sem uma sacudidela ou um trejeito, tudo natural. Ora, se ele faz, ... vamos a isto!... Desta vez, não rasgou o papel, mas o vaso ficou de crena, qual navio encalhado no paredão da Meia-Laranja! Chegada a quarta classe, o apuro refinava: o desenho tinha de ter sombreado. O Professor bem exemplificava, até no quadro preto, e chamava a atenção para a zona onde batia a luz, era tudo mais que evidente. Vamos à prática... Oh, desgraça, agora a sombra ocupava o espaço do desenho, como que a esconder o cilindro que fora posto sobre a secretária. Nada de desanimar: com uma pontinha de papel rasgado e mesmo com a ponta do dedo, com cuidadinho, vamos dar certo volume redondo ao cilindro... Olha, dá-me a impressão que até o papel está com pena do artista! Manuel
NOTA: Ao pensar numa ilustração para este texto do meu amigo e colaborador Manuel, lembrei-me que seria curiosos descobrir um desenho feito por um gafanhão antigo. Mexendo em papéis doutros tempos, que por aqui vou tendo, veio-me à mão um caderno de trabalhos escolares de João Simões Amaro. Não sei se ainda é vivo. Mas se for, terei muito gosto em lho oferecer. O desenho foi feito em 16 de Junho de 1930. O professor, penso eu, seria José Ferreira de Oliveira. Não haverá por aí outras curiosidades para partilhar? Fico à espera.
FM

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