A inteligência das emoções
1. Sente-se (e justifica-se) que em certa medida exista uma desconfiança das emoções. Mas está estudado que são estas que comandam a vida e o mundo. As razões para o preconceito e não integração das emoções e afectos prendem-se mais com a história dos séculos passados que com a realidade presente. Especialmente desde o princípio da modernidade do séc. XVI as emoções dominaram as razões a tal ponto que originaram páginas de precipitação intolerante baseadas mais em intuições emocionais que em razões lógicas. Mas já desde os tempos clássicos que, no esforço de compreensão “organizada” do ser humano, se considerou que ele é corpo e espírito. Os séculos racionalistas acentuariam a objectividade material e experimental; os tempos mais voltados para as componentes espirituais sobrevalorizaram a face das ideias desprestigiando as noções terrenas. Agravaram-se algumas dictomias (ou uma coisa, ou outra) a ponto de haver nos quadros do pensamento quase (imaturas) incompatibilidades.
2. Para quem vive “preso” à história, neste terreno da profundidade humana as razões fundamentam os medos e, consequentemente, a prudência aconselha à desconfiança. Para quem vive nesses paradigmas do passado (cartesiano), mesmo nos terrenos científicos da maior vanguarda do conhecimento, esta fronteira é ténue, e prefere-se o rigoroso separar das águas entre corpo e espírito. Fala-se de progresso humano mas tem-se medo de incluir nele todas as formas de conhecimento; sabe-se que os grandes problemas da humanidade actual não têm solução tecnológica (mas sim humana), mas sobrevaloriza-se e exalta-se o patamar da ciência tecnológica, cortando asas aos horizontes das ciências filosóficas, humanas e religiosas, dos clássicos como das artes. No fundo, pelo arrastar desse passado histórico (que continua) de graves incompatibilidades, temos medo de no presente incluir em diálogo (transdisciplinar) todos os conhecimentos…
3. E, assim, verifica-se que quando o mundo designado de intelectual abandonou as razões de possibilidades desta harmonia “mente sã em corpo são”, então esta abordagem da unidade psico-somática transitou para a lógica, muitas vezes, da irracionalidade… Que o digam todos os exoterismos e misticismos que, em palcos não iluminados pela ordem razoável do ser, fazem o seu falacioso caminho. Talvez seja mesmo preciso, urgentemente, resgatar a pluri-unidade dos conhecimentos para um patamar da justa racionalidade, isto é da inteligência emocional. Obras como a de António Damásio (os estudos da neurobiologia da consciência) derrubam essa dictomias antigas, como se o ser humano fosse um encaixotado de gavetas frias. E tudo quando se sabe que as emoções lideram o mundo. Ou a presente crise internacional não demonstra cabalmente que: 1. temos de superar as limitadas abordagens metodológicas da história; 2. temos dialogado muito pouco em rede com os vários conhecimentos; 3. que as publicitadas “expectativas” que comandam as bolsas de valores e os preços do petróleo são o novo nome da “inteligência das emoções” (= do sentir).
4. Sabemos que estas são águas profundas, mas são elas que em novos paradigmas de abordagem podem oferecer o justo equilíbrio a uma desejada humanidade humana; tudo diante dos desafios / oportunidades da globalização.