Uma Visita Histórica - 27 de Novembro de 1908
No livro “D. Manuel II e Aveiro – Uma Visita Histórica (27 de Novembro de 1908)”, o autor, Armando Tavares da Silva, oferece aos seus leitores pormenores curiosos, através de uma escrita acessível e de grande rigor, mas também atraente. Leva, assim, quem gosta de história a interessar-se por este assunto, o de um Rei que passou pela nossa região, suscitando manifestações de carinho. E refere, ainda, a Gafanha, como terra de passagem.
A dado passo, e ao descrever o passeio fluvial, diz que próximo à ponte da Gafanha formaram alas, «mais de 800 cyclistas, perfilados ao lado das suas bicycletas e que á chegada de el-rei levantaram calorosos vivas». Nessa altura, uma comissão, “abeirando-se do automóvel real, entregou ao monarca uma representação em que pedia a revisão da «lei da contribuição sumptuaria no que respeita[va] a possuidores de velocípedes», e a suspensão do andamento dos processos em juízo”.
Mais adiante, salienta que depois da volta «Pessoas de todas as classes davam vivas a El-rei, misturando as suas vozes com as notas do hymno nacional tocado pelas bandas que vinham a bordo. Na margem, uma immensidade de povo, carros, cyclistas, etc., que o tinham ido esperar á Gafanha, faziam tambem a sua volta a Aveiro». «Desde a ponte da Gafanha até ás Pirâmides, o monarcha teve um verdadeiro passeio triunphal, aclamado pela multidão, que se apinhava nas margens, com verdadeiro entusiasmo».
Posteriormente, na Câmara Municipal de Aveiro, «El-Rei poz ao peito do barqueiro Antonio Roque, da Gafanha, uma medalha de merito, philantropia e generosidade, abraçando-se ambos enternecidamente».
Deste texto retiramos algumas curiosidades, que vale a pena comentar. A primeira diz respeito ao número elevado (oito centenas; é obra, há cem anos!) de ciclistas que se juntaram para saudar o rei, mas também para protestar contra um imposto que lhes estava a ser aplicado. Naquele tempo, ter uma bicicleta era um luxo, que obrigava a pagar o imposto sumptuário. Presentemente, pagamos impostos por tudo e por nada, mas, que eu saiba, não há impostos que incidam sobre riquezas sumptuárias ou sobre a ostentação de riquezas que ofendem a pobreza da maioria dos portugueses.
Depois, ficámos a saber que um gafanhão, António Roque, provavelmente o mestre que conduziu o barco real, foi homenageado pelo rei. Interessante seria saber quem foi ele e quem são os seus descendentes, porque Roques há muitos aqui na Gafanha. Haverá por aí a medalha e o respectivo diploma? Fico à espera de achegas!
FM
NOTA: As fotos desta página foram publicadas no livro que lembra a Visita do Rei D. Manuel II a Aveiro, em Novembro de 1908, da autoria de Armando Tavares da Silva. A sua publicação no meu blogue foi autorizada, como “Documento cedido pelo ANTT”.
FM