Do 25 de Abril ao 10 de Junho
No dia 5 de Março, do corrente ano, fiz algumas humildes e breves considerações ao discurso que o Presidente da República proferiu na cerimónia da 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República. Na altura, o Presidente da República afirmou que “Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”. Tive ocasião de escrever, então, que “o 25 de Abril de 1974 será, sempre, passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias, que jamais poderão fazer parte do futuro”, se a classe política não tiver capacidade de se organizar e de se mobilizar, definitivamente, a fim de que os cidadãos deste país cumpram, na parte que lhes cabe, os desafios iniciados, após Abril de 1974. De outro modo, Abril (ou outro mês qualquer, para quem o desejar), continuará, em muitos sentidos, por realizar-se, para sempre!
De lá para cá, não sei se o “tal sentido” (não explicitado) do 25 Abril já começou a realizar-se ou se o estudo encomendado pela Presidência da República, “Os jovens e a política”, de Janeiro de 2008, já está a alterar esta letargia sacrificial em que vamos vivendo, ano após ano.
Procurando, dentro do possível, estar atento ao que a classe política vai dizendo, ou desdizendo, fazendo, ou desfazendo, do país e pelo país, ouvi com toda a atenção as palavras do Presidente da República, na Sessão Solene Comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se realizou, este ano, em Viana do Castelo.
Sabemos que nem sempre os políticos podem dizer tudo o que lhes vai na alma, mas há coisas que podem e devem evitar, sobretudo se contribuírem para aumentar as dúvidas de quem as já tem, como é o meu caso. A dado passo do discurso, o Presidente Cavaco Silva interroga-se (ou interroga-nos?): “Estarão as nossas instituições, as nossas empresas, a nossa sociedade, a responder aos desafios do presente?”
Custa-me a acreditar que ele não saiba a resposta, o que seria muito grave!
Partindo, pois, do princípio que a resposta é conhecida pelo Presidente, não será que ele queria dizer que nem tudo se está a fazer para que, “aquele sentido” do 25 Abril, de que falou, há cerca de mês e meio, se realizasse, nem que fosse só um pouco, mas de forma firme e decidida? É possível que sim, ainda que eu não saiba se existem, nesta altura de crises nacionais e internacionais, condições para tal. Quando as coisas não são claras dá nisto! “Temos de começar por ser exigentes e rigorosos connosco, se queremos que o imenso património que herdámos e de que justificadamente nos orgulhamos se transforme num verdadeiro instrumento ao serviço do progresso e da prosperidade do nosso povo” foi uma das outras declarações que também me levantou dúvidas. É muito provável que esta frase do Presidente tenha um sentido de exortação, ainda que seja possível dar-lhe um sentido imperativo. Digo isto porque, não raras vezes, as coisas não vão lá só com apelos nem com discursos estilo”soft”, mas sim com muito trabalho e disciplina para todos: governantes e governados.
Seja como for, a exigência e o rigor, enquanto valores que elevam e dignificam qualquer pessoa, têm que fazer parte natural da matriz de qualquer país que se queira respeitado e desenvolvido. Deduzo, pois, das palavras do Presidente da República, que estes princípios devem andar bem arredados de muitos portugueses e, quem sabe, se, na primeira linha, não estarão os dirigentes políticos que têm governado Portugal, ao longo de mais de trinta anos de democracia. Se assim for, e não pondo em causa a sua honestidade e as suas boas intenções, não deixa de ser mais um contributo negativo para que “o tal sentido” do 25 Abril ainda não se tenha realizado.
Assim, de discurso em discurso, quem sabe se, um dia, por milagre, tudo se realize de vez, a começar pelo país que, não o dizendo, afinal, também, ainda não se realizou.
No dia 5 de Março, do corrente ano, fiz algumas humildes e breves considerações ao discurso que o Presidente da República proferiu na cerimónia da 34ª Sessão Comemorativa do 25 de Abril, na Assembleia da República. Na altura, o Presidente da República afirmou que “Num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar-se”. Tive ocasião de escrever, então, que “o 25 de Abril de 1974 será, sempre, passado sem sentido e um memorial de recordações e nostalgias, que jamais poderão fazer parte do futuro”, se a classe política não tiver capacidade de se organizar e de se mobilizar, definitivamente, a fim de que os cidadãos deste país cumpram, na parte que lhes cabe, os desafios iniciados, após Abril de 1974. De outro modo, Abril (ou outro mês qualquer, para quem o desejar), continuará, em muitos sentidos, por realizar-se, para sempre!
De lá para cá, não sei se o “tal sentido” (não explicitado) do 25 Abril já começou a realizar-se ou se o estudo encomendado pela Presidência da República, “Os jovens e a política”, de Janeiro de 2008, já está a alterar esta letargia sacrificial em que vamos vivendo, ano após ano.
Procurando, dentro do possível, estar atento ao que a classe política vai dizendo, ou desdizendo, fazendo, ou desfazendo, do país e pelo país, ouvi com toda a atenção as palavras do Presidente da República, na Sessão Solene Comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se realizou, este ano, em Viana do Castelo.
Sabemos que nem sempre os políticos podem dizer tudo o que lhes vai na alma, mas há coisas que podem e devem evitar, sobretudo se contribuírem para aumentar as dúvidas de quem as já tem, como é o meu caso. A dado passo do discurso, o Presidente Cavaco Silva interroga-se (ou interroga-nos?): “Estarão as nossas instituições, as nossas empresas, a nossa sociedade, a responder aos desafios do presente?”
Custa-me a acreditar que ele não saiba a resposta, o que seria muito grave!
Partindo, pois, do princípio que a resposta é conhecida pelo Presidente, não será que ele queria dizer que nem tudo se está a fazer para que, “aquele sentido” do 25 Abril, de que falou, há cerca de mês e meio, se realizasse, nem que fosse só um pouco, mas de forma firme e decidida? É possível que sim, ainda que eu não saiba se existem, nesta altura de crises nacionais e internacionais, condições para tal. Quando as coisas não são claras dá nisto! “Temos de começar por ser exigentes e rigorosos connosco, se queremos que o imenso património que herdámos e de que justificadamente nos orgulhamos se transforme num verdadeiro instrumento ao serviço do progresso e da prosperidade do nosso povo” foi uma das outras declarações que também me levantou dúvidas. É muito provável que esta frase do Presidente tenha um sentido de exortação, ainda que seja possível dar-lhe um sentido imperativo. Digo isto porque, não raras vezes, as coisas não vão lá só com apelos nem com discursos estilo”soft”, mas sim com muito trabalho e disciplina para todos: governantes e governados.
Seja como for, a exigência e o rigor, enquanto valores que elevam e dignificam qualquer pessoa, têm que fazer parte natural da matriz de qualquer país que se queira respeitado e desenvolvido. Deduzo, pois, das palavras do Presidente da República, que estes princípios devem andar bem arredados de muitos portugueses e, quem sabe, se, na primeira linha, não estarão os dirigentes políticos que têm governado Portugal, ao longo de mais de trinta anos de democracia. Se assim for, e não pondo em causa a sua honestidade e as suas boas intenções, não deixa de ser mais um contributo negativo para que “o tal sentido” do 25 Abril ainda não se tenha realizado.
Assim, de discurso em discurso, quem sabe se, um dia, por milagre, tudo se realize de vez, a começar pelo país que, não o dizendo, afinal, também, ainda não se realizou.
Vítor Amorim