OS LIVROS
Caríssima/o:
Quando se falava de livros sem mais adjectivos ou acrescentos era do livro de leitura que se tratava; era único por cada classe: livro da 1.ª classe, livro da 2.ª classe, ...
Já se referiu a grande falta de dinheiro e de poder de compra o que originava que um livro servisse várias gerações de alunos e, por outro lado, fosse a referência das leituras disponíveis.
E o certo é que o conceito de livro era restritivo: os de aritmética, de redacção ... designavam-se “cadernos” - caderno de problemas, ...
Só quando se andava na 4.ª classe havia direito a uma enorme colecção: Gramática, História, Geografia e Ciências, uns livrinhos finos com uma caravela de linhas azuis ou vermelhas na capa; no interior, reinava o preto, quando muito lá surgiam duas cores... Mas quanto saber nas suas páginas!
O formato era uniforme nestes últimos: A5, ou seja o tamanho dos cadernos que se utilizavam. Os livros de leitura das três primeiras classes aproximavam-se do actual A4 o que era uma dificuldade acrescida para algumas das 'sacas' onde se transportavam os pertences escolares. Também estes tinham direito a uma capa de cartão, diziam-se encartonados; para os outros, mais pequenos, a capa era de papel, por vezes um pouco mais forte que o interior ou, quando muito e o que era raro, de cartolina.
Como os livros estavam sujeitos à lei da longa duração, saberão os mais novos qual era a primeira operação quando se recebia um livro pela primeira vez, novo ou emprestado? Algo que hoje já nem se imagina de tal forma caiu em desuso: pôr capas! E logo busca intensa se realizava à procura do papel apropriado e que defendesse o livro do uso a que ia ser submetido. De vez em quando havia acesso ao jornal e uma ou outra folha era guardada para essa finalidade!
E quando uma folha do livro se soltava?
Então iniciava-se o restauro... Mas como se os meios de que se dispunha eram tão escassos que punham à prova a habilidade e o poder de invenção dos artífices?... Colas não havia: recorria-se à farinha de trigo ou mesmo a batata cozida para proceder às indispensáveis colagens. O resultado nem sempre era famoso, mas o objectivo era conseguido: as folhas estavam todas e o livro apto para mais uma safra!... Afinal livro a que faltasse uma ou mais folhas era livro rejeitado... (Onde o mundo da fotocópia?!)
Admiram-se que soubéssemos muito do conteúdo e sejamos capazes de o repetir sem pestanejar? Uma comadre regala-se a declamar as poesias que aprendeu nos seus livros, e como ela o faz com arte e alma!
Para alguns será talvez novidade: assiste-se a uma grande procura desses livros e editoras dedicam-se à sua reprodução. Sinais dos tempos: coleccionismo... e saudade!
Manuel
Caríssima/o:
Quando se falava de livros sem mais adjectivos ou acrescentos era do livro de leitura que se tratava; era único por cada classe: livro da 1.ª classe, livro da 2.ª classe, ...
Já se referiu a grande falta de dinheiro e de poder de compra o que originava que um livro servisse várias gerações de alunos e, por outro lado, fosse a referência das leituras disponíveis.
E o certo é que o conceito de livro era restritivo: os de aritmética, de redacção ... designavam-se “cadernos” - caderno de problemas, ...
Só quando se andava na 4.ª classe havia direito a uma enorme colecção: Gramática, História, Geografia e Ciências, uns livrinhos finos com uma caravela de linhas azuis ou vermelhas na capa; no interior, reinava o preto, quando muito lá surgiam duas cores... Mas quanto saber nas suas páginas!
O formato era uniforme nestes últimos: A5, ou seja o tamanho dos cadernos que se utilizavam. Os livros de leitura das três primeiras classes aproximavam-se do actual A4 o que era uma dificuldade acrescida para algumas das 'sacas' onde se transportavam os pertences escolares. Também estes tinham direito a uma capa de cartão, diziam-se encartonados; para os outros, mais pequenos, a capa era de papel, por vezes um pouco mais forte que o interior ou, quando muito e o que era raro, de cartolina.
Como os livros estavam sujeitos à lei da longa duração, saberão os mais novos qual era a primeira operação quando se recebia um livro pela primeira vez, novo ou emprestado? Algo que hoje já nem se imagina de tal forma caiu em desuso: pôr capas! E logo busca intensa se realizava à procura do papel apropriado e que defendesse o livro do uso a que ia ser submetido. De vez em quando havia acesso ao jornal e uma ou outra folha era guardada para essa finalidade!
E quando uma folha do livro se soltava?
Então iniciava-se o restauro... Mas como se os meios de que se dispunha eram tão escassos que punham à prova a habilidade e o poder de invenção dos artífices?... Colas não havia: recorria-se à farinha de trigo ou mesmo a batata cozida para proceder às indispensáveis colagens. O resultado nem sempre era famoso, mas o objectivo era conseguido: as folhas estavam todas e o livro apto para mais uma safra!... Afinal livro a que faltasse uma ou mais folhas era livro rejeitado... (Onde o mundo da fotocópia?!)
Admiram-se que soubéssemos muito do conteúdo e sejamos capazes de o repetir sem pestanejar? Uma comadre regala-se a declamar as poesias que aprendeu nos seus livros, e como ela o faz com arte e alma!
Para alguns será talvez novidade: assiste-se a uma grande procura desses livros e editoras dedicam-se à sua reprodução. Sinais dos tempos: coleccionismo... e saudade!
Manuel