1. Não há redomas de vidro. O que somos no “sentir” revela-se na vida em sociedade. O que somos em casa acaba por se manifestar na estrada, nos jardins, na escola. Por vezes, nas alturas em que determinados “casos” saltam para a luz do dia, muitas reflexões centram-se mais na preocupação da atribuição de uma “culpa” para outrem do que da co-responsabilidade social de todos nos problemas comuns. Estabelecem-se, fragmentadamente, compartimentos estanques; dividem-se áreas até ao limite; tecnicizam-se as relações humanas (ou a sua desordenança violenta) no detectar das causas dos factos perturbadores. Nesse caminho de procura de respostas aos “porquês”, muitas vezes, não há tempo ou não se dá a justa importância ao essencial da “humanidade” das pessoas. Prefere-se a técnica. Mas sem o alicerce humano a construção vai-se “utilitarizando” na superfície...
2. O que de inquietante “perturba” (ou melhor interpela e desafia) a escola contemporânea brota da comunidade social. A escola, “simplesmente”, é tempo e lugar de lançar a semente, na expectativa de que o terreno queira dar frutos. A escola vive no “meio”, entre (pelo menos) dois meios: quer queira quer não, sente as complexidades do e no “meio” social em que está inserida, e, simultaneamente, está na fronteira de todas as expectativas (hoje maiores que nunca), vive no “meio” da (trans)formação das gerações... Quando alguém entra na escola, leve a sociedade em que vive, mas, com os conhecimentos adquiridos, recebe a nobre responsabilidade de aperfeiçoar a mesma comunidade social. Talvez este seja mais um esquema pré-formatado que a nova complexidade socioeducativa rapidamente desmonta e desinstala...
3. Há muito a aprender de tudo aquilo que na sociedade vai conseguindo motivar as mais novas gerações. É imperioso tirar partido do que pode estabelecer ponte comunicativa e viver esse caminho da aprendizagem permanente. Como fazê-lo? No tempo das mobilidades…cristalizar, parar, será “morrer”, desligar, desconectar. Fronteiras novas e sensíveis, que não podem perder o contacto do essencial, o humano de cada um de nós. Se uma transversalidade inédita de factores entram pela escola dentro surpreendendo-a (por vezes desordenadamente), o eixo de todas as (possíveis) soluções só lhe pode corresponder na expectativa de sua ordem reconfigurada. Não “incluir” será desligar a “ficha” que ofereceria as situadas novas possibilidades. É certo que este é já um caminho de longos séculos, mas que “em” globalização recebe desafios na sua directa proporcionalidade.
4. A escola parece não estar preparada para os “mundos e fundos” que se lhe pedem. Talvez seja reflexo d’“o que somos”. A escola, como a vida, merece que lhe seja dado mais “tempo humano”… formação, mas com sensibilidade. Que o diga António Damásio ao recolocar no “mapa” o “sentimento de si”, do que somos de mais profundo. É esse o “lugar” invisível e supra-técnico privilegiado a moldar pessoal e socialmente. Mas nunca tantos instrumentos existiram em “mãos educandas”. Pormenores decisivos…
Alexandre Cruz