Casa Pia, ainda? Como é possível!
1. Talvez mais ainda em matérias delicadas e alarmantes como esta, e como as conclusões deste processo “casapiano” retardam indefinidamente, o pensar do cidadão espelha o encontro com a verdade do bom senso concreto. O cidadão, ainda que não conheça os mecanismos processuais e morosos (naturalmente sempre justificados) da justiça, manifesta por si ou a razoabilidade da circunstâncias (o que não é o caso) ou a incredulidade alarmante dos factos e dos processos em andamento neste “Casa Pia” sem fim à vista.
2. É, naturalmente, de uma abrangência que não captamos (aliás o bom senso nacional não entende) tudo o que está a acontecer. Os dados estão na praça pública. Após o choque do caso há já alguns anos, entra a justiça em acção pensando-se que “passado era passado”. As recentes declarações de Catalina Pestana (ao jornal Sol, 20 de Out.) como as de Pedro Namora (à Sic-Notícias, 27 Out.), sublinhando que o crime continua são de fazer arrepiar o país. Sai provedor entra provedor; sai juiz entra juiz; sai procurador entra procurador… Mas, pelas palavras de quem está dentro e garante que não se cala, o crime continua!(?).
3. De facto, custa a acreditar que assim seja. Se for mentira e tudo estiver já devidamente “purificado”, então que se chame a atenção dos declarantes (ainda não foram chamados). Mas é verdade que a crueldade pedófila prossegue, então torna-se difícil vislumbrar uma solução para Portugal. Neste país que precisa de um clima de confiança social, onde se deve sublinhar, promover e sensibilizar para os valores positivos na envolvência de todos na resolução dos problemas (que não faltam). Todavia, enquanto a JUSTIÇA não brilhar cintilante, são inexistentes as bases de uma sociedade democrática credível. Continuamos de “castelos no ar”, pois sem essas bases estruturais e edificantes de uma justiça (mais) eficaz e capaz toda a liberdade que se deseja fica turba…
4. Claro que é fácil dizer em cinco minutos aquilo que é um universo tão problemático como este de que falamos. Mas na sociedade portuguesa, a par do prolongamento (ineficaz?) deste caso a que se vieram juntar alguns aspectos da recente revisão do Código Penal nesta área, só o levantar da suspeita de que afinal estamos (quase) na mesma, deixa-nos sem palavras e sem ideias que vislumbrem um fim à vista. Tudo é estranho, tudo é longínquo, tudo parece adiado… que pensará o cidadão que vê recurso em cima de recurso, numa lentidão serena como que tivéssemos todo o tempo do mundo? Será mesmo verdade o que dizem essas recentes entrevistas que o crime continua? “Casa Pia” ainda? Como é possível!
5. Entre a palavra e o silêncio, entre o que se pode dizer / fazer, afinal, o que podem os cidadãos…por uma justiça mais justa? Ou será (esta mais uma) fatalidade as coisas terem de continuar assim mesmo…?! (Ou, ainda, teremos pressa demasiada?!)
Alexandre Cruz