As razões do meu NÃO
O referendo, que agora está em curso para saber qual a posição do povo português perante a interrupção voluntária da gravidez, continua a pecar por falta de clareza. É certo que o assunto é complexo, por misturar problemas sociais, biológicos, humanitários, culturais. Mas, como a questão está apresentada, a pergunta que resulta é esta: a sociedade aceita ou não aceita que a Mulher interrompa a gravidez nas primeiras dez semanas, sem que para isso tenha que apresentar qualquer justificação? Mas será que a Mulher poderá ter a liberdade de decidir quanto ao destino a dar ao seu filho nas primeiras dez semanas de vida? Sim, porque julgo não haver dúvidas de que o que traz no seu ventre é o seu filho. E que está vivo também não haverá, certamente, dúvidas. Será, portanto, uma vida humana, que está no início de uma longa ascensão que sob o ponto de vista biológico atingirá o máximo, estabilizando, por volta dos vinte anos, para mais tarde começar um processo de regressão. Aquilo a que chamamos nascimento é apenas uma importante fase da vida em que o indivíduo, já com mais capacidade de defesa, passa do ambiente materno, onde deverá estar particularmente protegido, para o exterior, onde as condições são mais adversas.
E não se diga que aquele filho foi resultado do acaso. Não aceitamos admitir que as mulheres portuguesas desconheçam a existência de regras para fazer planeamento familiar e a disponibilidade de meios que o próprio Serviço Nacional de Saúde lhes põe à disposição para evitar gestações indesejadas. Mas não tenhamos dúvidas: o problema é cultural e, mais do que permitir o aborto livre, é preciso responsabilizar as mulheres e os seus parceiros pelos actos que levianamente cometem sem pensar nas consequências.
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