A COR DA CRISPAÇÃO
DA ÁGUA DAS CHEIAS...
Caríssimo/a:
Curiosamente no dia em que o vendaval mais nos fustigou andava às voltas com os livros de apontamentos do Avô Manuel Passarinha (de seu nome completo Manuel Joaquim Tavares Valente), falecido no Bunheiro, em 1943.
Fiz alguns recortes (conservando a ortografia que utilizou):
“Em 1897 lavraram-se as terras muito bem mas como não tornou a chover até ao dia 15-10 a colheita foi muito escassa, mas foi um ano muito abundante de pastagens e no dia 31 de 12 veio da travessia um temporal tão forte, de tarde, que deitou por terra muitos pinheiros e chamuscou as pastagens, também choveu. Cairam-me 25 pinheiros. [...]
Passarão-se 11 anos [desde 1903] sem novidade particular até que a noite de segunda para 3.ª de Entrudo, a 24 de fevereiro de 1914 reventou um temporal tão forte como não havia memoria nos homens mais velhos desse tempo. Aqui levantou o acabanal cheio de palha dencontro ao muro caindo ambos no meio da Estrada, e quebrou os raios ao munho de vento, deitou abaixo quasi todo o pinhal da Campota que foi vendido por 150:000, e fora estes cairão mais 73 pinheiros entre estes 4 velhos das Orchas, escapando 1 e nunca se viu o monte tão cheio de lenha arrancada e quebrada pelo meio. [...]
E em 16 de Janeiro de 1922 perto da noute veio um temporal do Norte mais forte do que o de 24 de fevereiro de 1914 todos os quintais sofreram havarias e em lenhas superior ao outro e morreram pessoas afogadas no rio com barcos borcados e frio.
Houve quem viu lume no ar e passados dias apareceram as folhas dos eucaliptos e loureiros secas. Primeiros signaes do fim do mundo, como diz a Escriptura.”
Este bom homem não se ficava só com as suas notas, consta-se que em tais dias punha a enxada ao ombro e ia abrindo valas e valetas para a água correr. Um apontamento mostra que não esperava que as forças públicas tudo resolvessem:
“O acduto dos Adeixos foi feito entre o Ant.º Carrabao e Ant.º Rico e eu M. J. T. Valente em Setembro de 1933
120 escudos”
Não tem a ver com vendavais, mas pode aguçar a curiosidade a alguns de nós o que deixou escrito sobre a família. Aqui fica só o início:
“Árvore de Família
começada em 2 de Fevereiro de 1911
pedindo a quem tiver disto conhecimento
para o futuro de a continuar.”
Manuel
Fora de tempo: Foi bom, mesmo muito bom a chegada de mais amigos a esta nossa conversa. O Mundo é pequeno, seria bem que acrescentassem sempre onde lutam... Feliz Natal!