GAFANHA DA NAZARÉ
ÀS ESCURAS
Ontem a Gafanha da Nazaré esteve quase toda às escuras. Às escuras e não só. A falta de energia eléctrica paralisou meio mundo desta cidade que virou aldeia do século passado, daquelas que se alumiavam à luz da vela. Segundo as funcionárias da EDP, a avaria, detectada mas não explicada, teria reparação concluída em data indeterminada... o que deixou em pânico muita gente. E mais não podiam dizer porque não sabiam e quem se quisesse queixar que o fizesse por escrito junto da administração.
Dos meus contactos fiquei a conhecer alguns pequenos dramas que a modernidade provoca. Já imaginaram uma senhora que ficou sem conseguir sair de carro, porque o portão, automático, não abria? E lá teve ela de ir a correr para o emprego, onde chegou toda molhada! Como "uma ursa", no seu dizer engraçado. Sim, que estas coisas também têm o seu quê de cómico!
Mas nem tudo é mau. Estas faltas de energia, que bloqueiam tudo quanto funciona em casa, obrigam-nos a recorrer às formas mais antigas de sobrevivência, como é a de fazer torradas sem a torradeira eléctrica!
Outra coisa boa foi o serão que as famílias puderam vivenciar. Sem televisão, sem rádio, sem leitores de DVD e sem Internet, toda a gente foi obrigada a conversar. Cá por casa, nem imaginam as estórias que foram recordadas à luz das velas. Nem sei quantas se acenderam... As chinesas é que se gastam muito depressa. Mas até isso foi motivo de conversa, ou não fosse a imaginação da China apreciada, na luta que tem travado para sair do fosso económico em que tem estado. Que as sociedades ocidentais se cuidem!!!
Recordações de infância, férias gozadas a fazer campismo, vidas de gente que sobreviveu sem necessitar da luz eléctrica, estórias que levaram os gafanhões a criar uma cooperativa para distribuição da energia mágina que marcou o século XX, por estas bandas, já que os poderes instituídos não tinham nem capacidade nem vontade para olhar, com olhos de ver, para esta terra em franco crescimento, de tudo um pouco se falou, porque a EDP, se calhar, se esqueceu de que a cidade da Gafanha da Nazaré deu um pulo enorme nos últimos anos.
Bonito, no fim de tudo, seria que todos fizessem esta experiência de quando em vez, mesmo que não falte a electricidade. Vamos a isso?
Só mais uma palavrinha: se o homem que muito contribuiu para a criação da freguesia da Gafanha da Nazaré, em 1910, e que foi seu primeiro pároco, o padre João Ferreira Sardo, na imagem, viesse agora ao mundo, decerto ficaria zangado com muita gente, porque uma cidade como esta, com tanto comércio e indústria, não merece tais descuidos da EDP.
Bom 8 de Dezembro, com muita luz, são os meus votos para hoje.
Fernando Martins