quinta-feira, 30 de novembro de 2006

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

RENOVAÇÃO, PROPÓSITO
QUE NÃO SE PODE ADIAR
Prestes a comemorar-se mais um aniversário, o 41º, do encerramento do Concílio Vaticano II, vem-nos ao pensamento a palavra profética e orientadora de Paulo VI. Naquele 8 de Dezembro de 1965 e nos tempos que se seguiram, ele não se cansou de encorajar a Igreja de então e de sempre, a que, sem medo, se empenhasse continuamente por trilhar o caminho da renovação e da conversão ao Evangelho. Só assim ela poderia responder às exigências da sua missão essencial, que tão eloquentemente expressara em tempos novos e exigentes que se viviam então e que seriam os que vinham a seguir. A renovação continua uma palavra e uma atitude actual, não apenas por força de um acontecimento que marcou a Igreja no seu futuro, mas, também, porque se nota alguma sonolência e instalação, em relação à graça e aos objectivos do Concílio, por parte de muitos cristãos, clérigos e leigos. As pessoas vão mudando e damos, com frequência, por gente que não viveu o Concílio, nem outros factos marcantes da sociedade, como a chegada do regime democrático e, para a qual, tudo pode parecer estranho. Não é que as novas gerações sejam menos generosas e atentas que as contemporâneas destes grandes acontecimentos que, a quando da sua realização, interpelaram por dentro, pessoas e comunidades. Pode ter acontecido, porém, que, por parte de muitos que os viveram, o ritmo da primeira hora tenha esmorecido, de modo a não contagiar, nem estimular o propósito e a atitude de renovação que a todos diz respeito, porque sempre e cada vez necessária e urgente. Por outro lado, Igreja conciliar e sociedade democrática, podem ser coisas tão naturais e óbvias que já não interpelam, nem põem em causa atitudes e projectos diários, mesmo que dissonantes.O propósito de renovação que nasce de uma conversão interior é sempre sinal de vida que quer durar e se quer expandir. Na conversão está a grande exigência posta pela renovação. Esta não se traduz apenas em fazer coisas novas, mas em tirar, do tesouro inesgotável e rico de sempre, coisas novas e coisas velhas, com sentido de novidade. A conversão leva a centrar a vida no essencial, voltando a ele ou reforçando as raízes que o suportam e alimentam. Pode e deve tornar-se uma experiência permanente, que não deixa adormecer, quando no horizonte dos compromissos estão coisas importantes, por vezes mesmo necessárias, a pedir intervenção. Paulo VI, em ordem à continuação do Concílio, fala de “renovar-se em Cristo”. Para um crente, a qualificação deste apelo é compreensível. Cristo é, para cada cristão, a referência necessária e segura para uma vida com sentido de responsabilidade. Aprender Jesus Cristo não é uma devoção. É o caminho do discipulado, da aprendizagem de uma vida consistente para fazer face ao dever de uma vida testemunhante e solidária. Ora esta atitude traduz-se em diálogo, serviço, disponibilidade; e ninguém como Cristo é modelo de um tal modo de ser e de agir. O Concílio não pode transformar-se numa preocupação de eruditos, mas há-de ser para todos uma luz norteadora. Todos os cristãos têm direito a esta luz que lhes permite viver e ser uma Igreja credível, pátria de salvos e, por isso mesmo, geradora de comunhão, num mundo perdido e dividido. Um sereno exame de consciência dirá a cada um que o caminho a andar ainda é longo e nem sempre cómodo. Mas dirá também que o caminho pessoal só o próprio o pode andar. Ninguém vai só e também isto constitui um estímulo a não ficar parado. Na berma da estrada estão os críticos, que nunca sentirão a alegria de fazer caminho, nem de construir o edifício apaixonante de uma sociedade nova, fraterna e solidária.

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