OS CARTÕES TÊM COR?
Caríssimo/a:
“Anos de Cristo!”
“Biscoito!”
“Cadeira de S. Pedro!”
E os números vão saindo da saca... Os rapazes, sentados à volta na eira, com os cartões desbotados à sua frente, fazemos as marcações com pedrinhas que foram sendo guardadas nos bolsos das calças. Quando alguém do lado dá alguma sugestão ou ajuda, a reprimenda sai de jacto:
- Não fales que dá azar!
Só se ouve a voz do 'cantador' que atira um número de cada vez:
“A conta que Deus fez!”
“Palitos da Areosa”
“Cuidado qu'o burro arrebenta!”
Foi precisamente este número, o 40 (será que estava nos meus cartões?), que me recordou este jogo que tantas tardes nos ocupou nos recantos mais sossegados. Já não me lembro de quem eram os cartões, nem tão pouco as suas cores se me apresentam, tão desvanecidas elas estavam, agora o que me vem logo à ideia era a pergunta que fazíamos:
- Quarenta: “cuidado que o burro arrebenta”! E então o noventa? E todos os outros 'entas'?
A cantilena dos números é assaz curiosa e remete-nos para a forte tradição religiosa, para cenas da vida real e factos ocorridos com o seu quê de pícaro ou mesmo picante. Mas a nossa dúvida vinha só na facilidade com que o 40 rebentava o animal!
Agora aqui sentado até acho fácil a solução (será solução? será fácil?).
Não terá a ver com os 'quarenta dias que Jesus passou no deserto'? Ou melhor, com os 'quarenta anos que Moisés levou a atravessar o deserto'?
Enormidade, duração desconhecida e sempre a apontar muito, muito tempo...
Nestas buscas pelos dicionários até houve um que me mostrou uma curiosidade que partilho: “nas línguas persa e turca, a 'centopeia' é chamada 'quarentopeia'!
Sabias que eu não sabia?
XUI!
Manuel