quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Um artigo de D. António Marcelino

QUE É FEITO DO
OBSERVATÓRIO
DA PUBLICIDADE?
Mão amiga deu-me conta de dois anúncios que lhe mere-ceram atenção. Ambos foram há pouco publicados em jor-nais diários bem conhecidos. Os de maior audiência. Por isso, certamente, são procurados para anunciar. Dizem assim: - “Procuram-se mendigos para diversos pontos de Lisboa. Trata Liga dos Indigentes”. - “Procuro mulher para ter um filho”. Há semanas fiz eco, mais uma vez, da publicidade descarada referente à prostituição. Um jornal diário publica, em cada número, mais de mil pequenos anúncios, fazendo a cobertura de todo o país, onde o produto se pode encontrar com um simples golpe de telefone. Cinco páginas, completas ou quase. É o único com este exagero, mas não o único a fazê-lo diariamente. A linguagem cresce cada dia em ousadia e despudor. Assim vende mais. Impunemente. A uma jornalista que me pediu informação sobre assunto bem diferente, falei no fim do que venho referindo, em relação ao seu jornal diário. Logo me respondeu: “Isso é com a administração”. Eu sabia, mas pedi-lhe que fizesse eco, junto de quem manda, da opinião dos leitores. “Não pode ser”, disse. Também o sabia. Quem manda é o dinheiro. Um jornalista, por mais sério que seja, tem de agradar a quem manda e paga, porque o poder está sempre aí. Os empregos são cada dia mais raros e mais precários. É tudo. Este é um verdadeiro deficit nacional. A pouca vergonha que enriquece, a falta de ética dos meios para conseguir os fins. Parece que ninguém do governo está empenhado em diminuir este deficit, a ponto de o ver saldado, quanto antes, porque assim o exige a purificação do ambiente. Não sei o que pensa Bruxelas, como orientação aos países membros, sempre tão zelosos em cumprir o que lhes interessa e em calar o que não vem ao seu jeito. Com a miséria moral que vai por essa Europa, é fácil de ver que “lá como cá, más fadas há”. Um Observatório da Publicidade para que serve? Só para detectar publicidade escondida e aplicar coimas? Se é assim, é bem pouco, embora mais rentável para o senhor Ministro das Finanças. O que se publicita, o modo como se faz e como se envenena o ambiente social, também tem a ver com este órgão, ou ele é apenas mais uma mão estendida do fisco? Diz-se que não se pode haver censura, que estamos num regime livre. Livre? Não é isso que se vê sempre. Há opiniões logo castigadas pelo poder político, e sanções inevitáveis para quem critica ou pensa de modo diverso. Está à vista de quem está atento. Igualmente preocupante é ver autarquias a lutar pela abertura de casinos no seu território e a publicitar espectáculos para toda a gente, próprios (ou impróprios?) de casas que não podem admitir menores. Assim vai a sociedade. E o Observatório da Publicidade que diz a tudo isto?

2 comentários:

  1. Bem prega o bispo de Aveiro, mas os políticos estão mais interessados nos problemas económicos. Eles não querem nada com religiões e com morais...

    JP

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  2. Concordo. Mas também não podemos esquecer que a economia é fundamental a todos. O importante é sabermos pregar a partilha.
    MR

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