Após longos debates por causa da inscrição da herança cristã no projecto de "Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa", penso que se encontrou uma boa solução nesta redacção para um dos considerandos do Preâmbulo: "Inspirando-se nas he- ranças culturais, religiosas e humanistas da Europa, cujos valores, sempre presentes no seu património, fixaram na vida da sociedade o papel central da pessoa humana e dos seus direitos invioláveis e inalienáveis, bem como o respeito pelo direito (...)." Esta redacção é mais abrangente e tem em conta outras heranças religiosas importantes.
Como é sabido, as críticas à Igreja Católica sucedem-se e há mesmo alguma má vontade hoje contra o próprio cristianismo por parte de intelectuais e responsáveis políticos. Isso não deve admirar, pois a religião não está imune à crítica. Lamentável seria e é o desconhecimento real do cristianismo e do que ele significa para a Europa e para o mundo.
No seu último livro, Aprender a Viver, um pequeno tratado de filosofia para os jovens, o conhecido filósofo francês Luc Ferry, que já foi ministro da Educação da França e que se confessa não crente, chama a atenção para o "absurdo" que lhe aconteceu quando era estudante: na História da Filosofia, saltava-se quinze séculos - do fim do século II para o século XVII -, com total ignorância da História Intelectual do Cristianismo.
Ora, há no cristianismo ideias que ainda hoje têm uma importância decisiva, de tal modo que foram retomadas pela filosofia moderna e mesmo por ateus.
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