Não pode haver portugueses
de primeira e de segunda
Penso que todos os portugueses reconhecem a importância social e económica do Futebol, como dos demais desportos. Com a participação da selecção portuguesa no último Mundial de Futebol o País vibrou e o nome de Portugal foi badalado pelo planeta, graças ao jogo mais atractivo que praticou. Todos estamos gratos aos dirigentes, técnicos e jogadores, mas não podemos endeusá-los.
Vem isto a propósito de a Federação Portuguesa de Futebol patrocinar a isenção fiscal para os jogadores que envergaram a camisola das quinas. Cada um, segundo revela a comunicação social, vai auferir, pela sua participação, a bonita verba de 50 mil euros, como prémio.
Antes de mais, mesmo que a lei consagre isenções (e consagra-as para os prémios atribuídos pelo Governo), seria uma injustiça, neste caso, por se pretender beneficiar quem ganha, mensalmente, tanto dinheiro. Será que os nossos jogadores precisarão de tais regalias, não lhes bastando a honra e a fama de representar Portugal? Será que o facto de jogarem na selecção não é, para cada um deles ou para a maioria, uma mais-valia que se reflecte nos seus contratos?
Passada a euforia da participação portuguesa no Mundial de Futebol, bem alimentada pelos bons resultados alcançados, os portugueses não perdoariam ao Governo que isentasse os jogadores do pagamento de impostos sobre os prémios ou vencimentos auferidos.
Os portugueses estão fartos, pelo que ouço e vejo, de haver compatriotas de primeira e de segunda. Quem vive ou sobrevive com ordenados e reformas de miséria, contando os euros no dia-a-dia para não entrar em défice ao fim do mês, não admite nem tolera que os jogadores internacionais de futebol pudessem beneficiar de isenções fiscais.
Claro que a lei as contempla, quando os prémios vêm do Estado (o que não é caso), mas repugna-me a ideia de alguém se lembrar de pedir mais umas benesses para os jogadores de futebol. Em matéria de impostos, como noutras, não pode haver portugueses de primeira e de segunda. Todos têm a obrigação de pagar o que é devido ao fisco. Querer fugir a isso, é crime.
Privilégios, benesses, isenções, regalias, honras especiais e quejandos, que tanto se vêem e reclamam, não são próprios de uma democracia adulta e solidária.
Fernando Martins