quinta-feira, 18 de maio de 2006

Um artigo de D. António Marcelino

Uma situação
nacional
muito preocupante Toda a gente fala do deficit económico e, provavelmente, vai passar-se, mais uma vez, ao lado do drama, que outro nome não se lhe pode dar, do deficit humano e demográfico do nosso país e da destruição programada das famílias normais. Não tem faltado quem alerte para a situação. Mas deitam-se, agora, as mãos à cabeça perante os resultados inegáveis. Não se vêem políticas familiares e sociais que estimulem à natalidade, dando condições para que esta cresça. Ao contrário, surgem, de um dia para o outro, políticas fiscais que favorecem as uniões de facto em detrimento das famílias constituídas segundo a lei, políticas que tornam a vida cada vez mais difícil e afastam, como se fora um risco perigoso a não correr, gerar filhos ou gerar mais um filho, por maior que seja o desejo de o fazer. Diz-se que o “governo apela para que os casais tenham mais filhos”. O governo não tem que fazer apelos morais. Deve apoiar, dando condições aos casais novos e às famílias para que gerem filhos, se tal decidiremA predominância do filho único já se tornou, entre nós, o normal. Num terço das famílias portuguesas é isso que acontece. A Europa já acordou. Nós estamos descontraídos à cabeça da lista, alheios ao Inverno demográfico. O mesmo com os divórcios. Por falta de trabalho regular e seguro, o casamento vai-se adiando. O preço exorbitante das casas, a qualidade das mesmas, tantas vezes em blocos sociais, reduzidas e sem qualquer privacidade, a dificuldade dos empréstimos, nada estimula a vida em família. A dificuldade de encontrar creches e da mensalidade caber no ordenado, quando se encontram, para um casal em que ambos trabalham fora, com horários desencontrados e em lugares distantes, não facilita pensar ter filhos ou ter mais filhos. Os divórcios dispararam, a insegurança aumentou, os filhos não raramente são um incómodo que dificulta aos pares descomprometidos, novos rumos, novas experiências, novas aventuras. São também, por vezes, uma sobrecarga que se leva a contra gosto, com uma ânsia incontida de que chegue o dia em que vão para o outro pai, ou que chegue a noite em que passem de novo para a casa dos mais dias… Que admiração que as estatísticas falem do mau rumo de muitos filhos mal amados, se os pais se voltaram mais para si que para eles? Se lhes dão mais facilmente um telemóvel, que um tempo de carinho e atenção? Fala-se do direito a ser feliz, sem se tomar conta de que não pode haver verdadeira felicidade, se o preço desta for a infelicidade de inocentes, que não escolheram os pais, nem têm culpa se o amor que os gerou se esfumou de vez. Muitos dos que optam pela união de facto não têm, nem querem filhos. Entendemos porquê. Um filho é um dom. Sem estabilidade dos pais, pode tornar-se um pesadelo. As leis vão facilitando, como se umas coisas nada tivessem a ver com as outras. Dou por mim a pensar se os nossos governantes, e também os que legislam, são pais e avós. Se vivem com os pés no chão e conhecem a realidade. Se alguma vez passaram por dificuldades, ou se são apenas dos novos aventureiros nos quais a vontade pessoal e o jogo de interesses se sobrepõem a tudo o mais. Pode favorecer-se a procriação à base de incentivos fiscais, sem se saber que, se há casais que não querem ter filhos, há muitos mais que sofrem por não os terem ou por terem apenas um? Que ainda há mais que desejariam tê-los, se as condições fossem diferentes? Quem está convencido de que o encerramento de algumas maternidades é apenas um problema de segurança médica? Mães aí parturientes e técnicos de saúde que as assistiram testemunham, publicamente, que a segurança é total? Fecham-se escolas porque não há alunos. Pode o governo não se interrogar sobre a razão de os não haver? O problema não se soluciona quando surge, mas prevenindo e agindo sobre as causas.

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