Domingo de Ramos, cidade de São Paulo, meio-dia, um sol a pique, paulistas, de diversas idades, classes sociais e raças, fazem fila para comprar o bilhete de acesso ao Museu da Língua Portuguesa, recentemente inaugurado e instalado no edifício da estação da Luz.
As grandes faixas afirmam peremptoriamente que "a língua é o que nos une". Deve ser porque acreditam que assim é que ali estão disciplinados, pacientes, alegres, gastando as horas de domingo e os reais do bolso, comprando um picoli ou um guaraná que a famosa "economia paralela" põe à disposição da fila, com rápido e eficaz sentido de negócio.
Também lá estou. Unida por maioria de razão. Curiosa e interessada mais ainda, se possível, por ter lido de rajada três autores lusófonos, fascinada com a riqueza que trazem à minha (nossa) língua, que assim vai ganhando sons, cheiros, formas, uma plástica riquíssima sem nunca perder a matricial gestação: Nélida, Chico Buarque, Pepetela, Vozes do deserto, Budapest, Os Predadores.
Sei, como Auro Dicério, que a nossa matéria-prima é a palavra. Nosso som, nossa senha, nosso sentido, nossa argamassa.
Sei, como Pessoa, que a língua é a minha Pátria. Sei como Guimarães Rosa que a linguagem e a vida são uma coisa só. E que a linguagem corre através da vida, e a vida molda a linguagem. E os escritores são os que dão, a cada palavra, o seu momento de respiração, e na escolha da palavra certa, a agarram definitivamente a um sentir colectivo.
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