Não há nenhum português, minimamente inteligente, que não conheça as barreiras burocráticas que dificultam a vida a toda a gente. Em qualquer repartição, para resolver assuntos por mais elementares que sejam, são exigidos papéis e mais papéis, obrigando o contribuinte a recorrer a todas as suas forças para manter a serenidade.
E se é verdade que os Governos, desde o 25 de Abril, têm prometido simplificar a vida aos portugueses, também é certo que só José Sócrates conseguiu dar o pontapé de saída para se iniciar a longa caminhada que se impõe, no sentido de acabar com tanta papelada inútil, que servia somente para nos aborrecer a todos.
Não vamos discutir aqui se o Governo socialista está a fazer tudo certo, mas temos de reconhecer que está a fazer o que é preciso. As eventuais correcções, que serão inevitáveis, virão depois.
Já sei que não hão-de faltar políticos que, uma vez mais e como todos sabemos, não deixarão de criticar as propostas de José Sócrates. Sabemos isso, porque a nossa democracia, que nunca mais atinge a maturidade, é dominada por certos políticos profissionais, que somente sabem dizer mal de tudo e de todos, menos deles próprios. São os tais que tudo reprovam, mas que, quando passaram pelos Governos, nada fizeram de relevante para acabar com a burocracia, que é a mãe de todos os entraves ao progresso.
Reformas desta natureza são sempre difíceis de levar por diante. Há os eternos burocratas, gente instalada que gosta de passar a vida a mexer em papéis, mesmo sabendo que os mesmos vão, no dia seguinte, encher gavetas e estantes, onde ficam à espera que a traça os domine. Há também os lóbis que precisam da burocracia como de pão para a boca e que apostam continuamente em mater o statu quo, unicamente para alimentar os inimigos do progresso.
As 400 medidas hoje anunciadas vão, decerto, tornar a vida mais fácil para os portugueses, se não houver boicotes e se todos colaborarmos nesta aposta do Governo, porque os beneficiários seremos nós próprios.
Os velhos do Restelo, que fazem parte da nossa maneira de ser e de estar na vida, e que Camões tão bem eternizou, não deixarão a praia para barafustar. Mesmo que a maioria passe ao lado e não lhes dê crédito. É o que eles merecem.
Fernando Martins
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