Fernando Echevarría
É DOCE ENVELHECER
É doce envelhecer quando o que avança
é ir recrudescendo a inteligência.
Entra-lhe o mundo no vagar. Decanta
o seu volume inteiro de contenda.
Transporta-se. E entrega na palavra
a inteligível criação. Entrega
o desenvolvimento. O pulso. A trama
que ajustam sua refundação aberta.
E a doçura de se ir vendo alarga
o envelhecimento a quase ciência.
Uma ciência onde o enigma é alma.
E onde o mundo contunde. Insiste. E pesa.
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In “Observatório da cultura”, número especial,
Dezembro de 05.
Edição do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
“Fernando Echevarría nasceu em 1929. Estudou Filosofia e Teologia. Viveu muitos anos em Paris, onde se ocupou na área do ensino. A sua poesia começou a afirmar-se nos fins dos anos 50, marcada inicialmente por uma grande concentração metafórica que acompanhava uma espécie de respiração polifónica dos motivos. Para abrigar-se progressivamente numa admirável depuração verbal, tirando partido das elipses, das sugestivas contracções dircursivas, das suspensões diante do sentido. A palavra de Echevarría é um idioma decantado quase até ao limite da abstracção. Mas pelas cesuras dessa língua o fulgor brilha, recôndito e intensamente presente."
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Das suas obras mais recentes destacamos: “Introdução à Filosofia” (Poesia), “Geórgicas” (Poesia), “Uso da Penumbra” (Poesia), “Introdução à Poesia” (Poesia).”
In “Observatório da cultura”
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Nota: Fernando Echevarría recebeu o “Prémio de Cultura – Padre Manuel Antunes”, na sua primeira atribuição, prémio anual instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.