Bateiras na Ria de Aveiro
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ARCO-ÍRIS NUM BERBIGÃO…
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Caríssimo/a:
Janeiro vai frio, daquele frio de rachar…
Ali, à minha frente, na cabeça do Cão, o Jorge esgravata com as mãos, à procura de berbigões….Há muitos, mas o frio faz com que interrompa a tarefa de quando em vez, esfregue as mãos uma na outra e atire os braços contra o corpo, como que se abraçando e batendo com as mãos nas próprias costas… Recomeça e vai enchendo o cesto que bom governo fará para o aconchego dos dois porquitos comprados na feira dos 13, na Vista Alegre. Porém, reparo agora que está a olhar fixamente para algo que aperta nos dedos. Que será? E a pergunta, espontânea:
- Jorge, algum caranguejo te mordeu?
- Não! Olha, vem cá ver!
O berbigão, talvez por adivinhar a nova maré, como que segregava uma espuma e o Jorge, feliz, encantou-se com o arco-íris que nessa espuma descobriu e me mostrava todo sorridente!...
Imagem bonita, para aí com uns bons sessenta anos, como aquela que se observou no outro dia na televisão: as embarcações eram às dezenas a caminho de Aveiro. Mas uma ostentava o encantamento do arco-íris num berbigão acariciado entre os dedos; enquanto que a outra se sobrepunha aos problemas que os homens têm de resolver para dar o pão aos filhos.
Como recordo o ti Quim e a sua bateira, com o seu rancho de Mulheres na apanha do berbigão e do mexilhão. Elas, mergulhadas na água até à cintura, até ao peito as mais baixas, para desenterrar o pão que matasse a fome dos filhos. Nós brincávamos, à sua volta, no nosso parque de meninos ricos de liberdade, e íamos abrindo o berbigão e retirando das cascas o fruto que nos regalava e fazia esquecer as hora do relógio do estômago…
Boa semana
Manuel