ESTADO
Anda toda a gente preocupada com o futuro da protecção social. Mesmo nos Estados Unidos, onde é baixo o nível da protecção, há recuos nos benefícios da segurança social e da saúde. Em Portugal, com uma economia bem mais pobre, temos redobrados motivos para receios. O fraco crescimento económico e o envelhecimento da população, com cada vez menos activos a pagarem as reformas de cada vez mais pensionistas, ensombram o horizonte. Mas pouco se fala do reforço da autoridade democrática do Estado, condição de igualdade e protecção essencial dos mais desfavorecidos. E até não envolve muito dinheiro.
A esquerda tem esquecido essa frente decisiva da justiça social. Talvez pela sua alergia à ideia de autoridade. Ora um Estado fraco, como o nosso, está à mercê das pressões dos poderosos, à custa dos mais fracos. É o terreno ideal para as corporações fazerem vingar os seus interesses sectoriais contra o interesse geral. E para o esbater das fronteiras entre negócios e política. Quando a corrupção é grande, como infelizmente é o caso português, lucra quem tem meios - dinheiro e influência política e social. Perdem os que são pobres e não dispõem de recursos para pressionar a máquina estatal, incluindo as autarquias. Exemplo desta iniquidade está no facto de termos uma justiça para ricos e outra para pobres.
Por isso reforçar o Estado não deveria ser apenas uma ideia para discursos de circunstância. Ao encerrar o debate orçamental, o ministro das Finanças prometeu "mudanças profundas na forma como o Estado se organiza e funciona". Mas parece que o Governo tem vergonha de proclamar, e assumir, o imperativo de dotar o País de um Estado digno desse nome. Esta deveria ser a prioridade. Não é apenas uma questão financeira e política. É sobretudo uma exigência de justiça social.