quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Um artigo de D. António Marcelino

FREGUESIAS, ESCOLAS,
CENTROS DE SAÚDE,
EXAMES, UM VENDAVAL Penso que as decisões de quem governa, quando têm consequências inevitáveis, são ponderadas, embora às vezes não pareça. Podem é receber luz apenas de um lado e acabam por ficar coxas e sempre agressivas de direitos de cidadãos normais. O país está cansado por ver que quem chega ao poder já traz no saco, como primeiro objectivo, mudar o que os outros fizeram. Também é verdade que, se fosse para ficar tudo na mesma, não era necessário mudar os governos. Mas há modos e limites. Ao bom senso do povo não é fácil dar-lhe a volta quando vê que muito dinheiro se deita fora com mudanças pouco pensadas e, não raro, muitas coisas que agora se fazem, ontem eram criticadas pelos mesmos políticos quando estavam fora do poder. A alternância, que devia ser uma normalidade positiva e esperançosa, não passa, na maioria dos casos, de um ajuste premeditado de contas e de corrida a novos interesses. As mudanças e alterações, agora anunciadas, sucedem-se em catadupa e muitas delas provocam, como seria de prever, dúvidas e forte contestação. Eliminação de freguesias, encerrar de escolas, desactivação de maternidades e urgências, exames que incomodam, alunos preguiçoso e desequilibram estatísticas europeias…Soltou-se o vendaval. Acontece, é o caso das escolas com um número reduzido de alunos, que a procura de melhores condições para a educação justifica que o problema se ponha, não porém sem acautelar as consequências previstas. Eliminar freguesias por esses país fora, em maior número no interior desertificado do país, merece especial cuidado e atenção. A nossa terra é a nossa terra. A sua grandeza não tem que ver com o número de habitantes. A gente da cidade não tem terra, nem raízes, nem história. Isso são coisas do povo atrasado. A Igreja tem igual problema com as paróquias pequenas, mas não pensa resolver o problema eliminando-as. Há outros caminhos que não tocam com os sentimentos. E, quando um dia tudo for evidente, as soluções inevitáveis aceitam-se. Das maternidades, de há muito se vem falando. Agora, é o serviço das urgências nos centros de saúde e nos hospitais. Os políticos locais da cor do regime já se mexem por via dos compromissos eleitorais, mas há sempre maneira de os calar. Calam-se depressa e logo mudam de tom e de razões. É a vida… O povo atingido é o elo fraco e acaba por depor armas. Não é fácil entender. Se o dinheiro dos impostos é igual, porque têm uns tudo ao pé da porta e se queixam sempre, e outros nem sabem onde o têm e se calam… Contenção das despesas, exigências do orçamento? Isto tem muito que se lhe diga e o povo pergunta sempre porque é que por um lado se esbanja tanto com os interesses de poucos e, por outro, se poupa tanto, mas sempre a desfavor dos mesmos. Agora, nem dá para acreditar. Menos exames para o 12º ano! A cortar, diz-se, que seja nos de Português e Filosofia. Deixem-me brincar um pouco, porque a brincar se castigam os costumes. Para menor escândalo corta-se em primeiro lugar o exame de Filosofia. O Português acabará por si, que a hora agora é do Inglês. Filosofia, pode cortar-se já. O choque tecnológico dispensa essa banalidade que não entra nos raciocínios que levam a um progresso competitivo. Ele nem há um prémio Nobel da Filosofia… E, depois, se os jovens se habituam a pensar, a concluir e a aprofundar teorias que outrora deram revoluções, lá se vão as juventudes partidárias… É preciso que o povo conte nas mudanças anunciadas e noutras que o atingem Ou ele agora, para os novos democratas já não ordena, nem muito nem pouco? Teremos de ser sempre os mais pobres, os mais ignorantes, os eternos dependentes?

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