Em Portugal, a crise começou a ser encarada a sério pelos governos. O actual Executivo, em particular, tem revelado coragem nas medidas a tomar, porventura ainda insuficientes
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É um truísmo dizer que o modelo de Estado europeu de bem-estar se encontra em crise. Os portugueses vivem em pleno essa crise, apesar de nunca terem usufruído completamente das vantagens do Estado-Providência.
Nesta situação, os comportamentos defensivos dos vários sectores da população activa dinamizam-se fortemente - funcionalismo público, incluindo os juízes e os militares, sindicatos representantes dos trabalhadores com contratos sem prazo, etc.
Até as estruturas administrativas autónomas de base territorial, regiões e autarquias sobretudo, se entrincheiram por detrás dos privilégios orçamentais que conseguiram no passado. Os que não têm poder reivindicativo nas negociações colectivas, porque ainda ou já não participam na produção, ou não são representados pelos sindicatos, resignam-se, ou participam nas manifestações de rua que exprimem o desagrado pelas políticas de contenção.
É um quadro que se observa mais ou menos generalizadamente por toda a Europa ocidental. As dificuldades do Estado social resultam em grande medida da excessiva confiança no desenvolvimento económico continuado dos anos sessenta do século passado, da pesada intervenção do Estado na economia, da concorrência internacional exacerbada pela globalização e da própria evolução das condições técnicas do aparelho produtivo.
Os antídotos mais frequentemente preconizados apontam para o exemplo americano e aconselham a concretização de um neoliberalismo sem contemplações com a justiça distributiva.
As terapêuticas necessárias parecem ser, todavia, bem mais complexas e não poderão circunscrever-se apenas aos aspectos económicos.Mas, como quer que seja, põe-se às democracias uma questão crucial ainda não resolvida como conseguirem os Governos fazer aceitar pelos seus eleitores - compostos justamente pelos destinatários das medidas restritivas - as reformas tão necessárias?
As hesitações, as manobras de diversão e as fugas à realidade por parte dos responsáveis políticos explicam-se em grande parte por esta dificuldade. Grassa em muitos países, na classe política, grande desorientação sobre como ultrapassar o obstáculo da opinião pública contrária.
Em Portugal, a crise começou a ser encarada a sério pelos governos. O actual Executivo, em particular, tem revelado coragem nas medidas a tomar, porventura ainda insuficientes. É desejável sob muitos pontos que possa incidir um pacto de regime que permita unir os esforços dos partidos democráticos no esforço comum, mas há que reconhecer ter faltado até agora, apesar dos esforços do Presidente da República, determinação no combate ao pessimismo e sobretudo uma clara mensagem de esperança.
Portugal precisa de poder acreditar no seu futuro e é importante dar as razões concretas para que a confiança seja recuperada.