segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Um artigo de João César das Neves, no DN

A certeza serena de Cristo vivo “Cristo vivo". Esta é a certeza que nestes dias ressoa por Lisboa. As nossas vidas, cultura e civilização estão cheias de factos, elementos, hábitos que partem desta afirmação Cristo está vivo! Mas suponha... eu sei que é difícil, mas suponha por momentos que Cristo não está vivo. Suponha por um instante que Jesus não ressuscitou, que não é o filho de Deus (a razão deste exercício blasfemo ficará clara adiante). Se Cristo não estivesse vivo não desapareceria a sabedoria. Mesmo que o Evangelho fosse falso, ainda haveria a Torah e o Alcorão, os Analectos e os Vedas, a Metafísica de Aristóteles e a Crítica da Razão Pura. No limite, se o Absoluto não existisse, se a realidade fosse mesmo só aquilo que conseguimos ver, desapareceria o fundamento transcendente da verdade. Mas, ao menos, teríamos a nossa atracção natural pelo conhecimento, civilização, dignidade e ciência que vencem a barbárie. Se Cristo não estivesse vivo não desapareceria a justiça. Mesmo que Cristo não fosse Deus, ainda haveria o juízo de Jahvé ou Alá, de Buda, da deusa ou dos espíritos, da Ética a Nicómaco ou da Carta dos Direitos Humanos. No limite, se a divindade não existisse e a morte fosse definitiva, bons e maus teriam a mesma sorte final. Mas, ao menos, teríamos o nosso inato sentido de equidade e estaríamos sujeitos à amizade, benevolência e justiça humanas. Se Cristo não estivesse vivo ainda haveria sabedoria, justiça, bem, amizade. Mas desapareceria do mundo a prova suprema do Amor de Deus. Deixaria de ser verdade que o centro da realidade é o mistério de um Amor infinito que se entrega. Porque se Cristo não ressuscitou, então é falso que "Deus amou de tal maneira o mundo que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todos os que nele crerem não se percam, mas tenham a vida eterna" (Jo 3, 16). Se Cristo não estivesse vivo, então Deus não amaria apaixonadamente a Humanidade, a ponto de se entregar à morte por ela. Se Cristo não é Deus, então Deus não existe; ou, pior, existe longínquo, severo, arbitrário, múltiplo. Se Cristo não estivesse vivo não desapareceria a sabedoria. Mas Deus não teria vindo pessoalmente ensinar o caminho da salvação. Deixaria de ser verdade que Deus tenha nascido como um bebé, vivido entre nós, conhecido a miséria humana e o sofrimento. Sem Cristo, as mãos do sacerdote não consagrariam o pão e o vinho, fazendo Deus presente, entregue por amor. Sem a doutrina de Cristo haveria sabedoria. O que desapareceria era a prova viva do Amor infinito, absoluto. Se Cristo não estivesse vivo não desapareceria a justiça. Mas Deus não teria assumido sobre Si o castigo que os nossos pecados merecem, resgatando-nos da miséria final e definitiva. Sem Cristo, as mãos do sacerdote não perdoariam os pecados e o sofrimento seria um paradoxo incompreensível e intolerável. A dor, desligada da cruz que abre à ressureição, perderia a razão de ser. Sem a redenção de Cristo a morte ainda podia arranjar sentido. A vida é que deixava de ter saída.Assim, a certeza de que Cristo está vivo não se baseia apenas na evidência esmagadora da Sua influência na nossa vida. Essa certeza não está só na surpreendente revolução que um punhado de pobres pescadores, discípulos de um condenado, fizeram no Império Romano em Seu nome. Não está apenas na permanente revolução de corações e culturas que a Sua mensagem viva vem fazendo ao longo dos séculos. Não se vê só na Sua doutrina, sublime e incomparável, que resiste até aos terríveis pecados dos seus discípulos e a miríades de ataques e incompreensões. Não se sente apenas na serena alegria dos santos, na dinâmica comunidade dos baptizados, que vivem diariamente com Aquele que está vivo. A certeza de Cristo vivo manifesta-se também nas raízes da realidade, no florescimento da sabedoria, na sublimação da justiça. Porque a realidade só se baseia no mistério de um Amor infinito, a sabedoria só nasce de um ensino pessoal e a justiça só parte de uma redenção gratuita porque Cristo está vivo.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue