Voltámos a Maio de 68? O que se tem passado em França de violência é um sinal dos novos tempos? Da abertura das fronteiras, do despovoamento das aldeias? Da deformação das grandes cidades? Dos subúrbios como lugares menores mas repletos de juventude e vigor, ao contrário dos centros onde, simultaneamente apodrecem as pessoas e as casas? A mistura descoordenada de raças e povos, empurrados para a margem da vida, onde o local é um simples indicador? Paris tem estado a arder e os sinais externos que nos chegam, parecem configurar uma simples inabilidade política momentânea, ou uma falta de jeito democrático para utilizar forças de segurança em defesa de vítimas?
E também a questão ideológica já abundantemente exibida: que política de segurança, diálogo, desrespeito pelas minorias - que serão cada vez menos minoria - terá desaguado numa desordem pública sem precedentes e sem controlo? Que fará melhor a esquerda que a direita?
Existem elementos comuns: jovens e adolescentes; falta de ocupação, vida sem projecto, ghetos progressivos convertidos em gangs de cidade (quem não lembra West Side Story?) onde ainda era possível cantar I like to be in América..?) Não há uma canção ou um slogan de registo que desenhe a utopia explosiva desta geração.Eis uma pergunta importante: onde querem viver estes jovens, portadores de outros genes culturais e embutidos, à força, numa sociedade, por imperativo de sobrevivência e desejo de melhorias dos próprios pais? Estes jovens de outras culturas, credos e raças estão na Europa porque os pais quiseram um futuro melhor para eles. E assim chegamos ao ponto de partida: o desenvolvimento a que todos os países e regiões têm direito.
Tal como a gripe das aves, quem pode demarcar as fronteiras desta raiva incontida que rapidamente se espalha em adolescentes e jovens de qualquer parte do mundo?Que armas tem a Europa para este combate, na sequência do terrorismo que, em cada dia, se torna mais absurdo, imprevisto e ameaçador?Que novos indicadores estão latentes neste tresloucado fenómeno?
É com esta realidade que temos de viver. Tentando deslindar os porquês e aplicando rigorosamente o que nos parece o único caminho em condições para oferecer uma resposta: o humano, com uma compreensão generosa sobre o todo. Só com força de choque e discursos autojustificativos de ministros, não se vai lá. A questão é muito mais que política. É uma questão moral.