e respondeu com a fé
Foi no dia 4 de Setembro de 1837, no Palácio da Anunciada, em Lisboa, que nasceu Teresa Rosa Fernanda de Saldanha Oliveira e Sousa. Era a segunda dos filhos de D. Isabel Maria de Sousa Botelho e de João de Saldanha Oliveira, terceiros condes de Rio Maior.
Desde cedo norteia a sua vida pelo amor a Deus e aos pobres. Entrega-se, de alma e coração, como voluntária e fundadora, ainda muito jovem, à Associação Protectora das Meninas Pobres, para a promoção e educação da mulher. Ao discernir uma vocação religiosa, abraça a cruz da proibição dos pais e da ausência de qualquer vida religiosa no país. Guiada só “pela vontade de Deus”, sacrifica o desejo de se consagrar, no ardor da sua juventude, mas tem a consolação de fundar a Congregação Portuguesa das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, que orienta e custeia, acompanhando as duas primeiras Irmãs que fazem o seu noviciado em Drogheda, na Irlanda.
A 13 de Novembro de 1868, desembarcam em Lisboa as duas primeiras Irmãs, instalando-se numa pequena casa, nas portas da cruz, onde começam a sua acção na clandestinidade.
A partir de 1834, no Mosteiro de Jesus, como noutros conventos, foi proibida a emissão de votos. Por morte da última religiosa, em 1874, e a pedido da população de Aveiro, o Governo deu o convento às pupilas que aí permaneceram, abrindo estas uma escola para crianças pobres. Devido às enormes dificuldades económicas, quer na manutenção do convento, quer do pequeno colégio, recorreram, como outros já tinham feito, a D. Teresa de Saldanha: «Escreveram-me muito aflitas por falta de meios e eu venho dizer-te que me parecia que a nossa Associação lhes poderia enviar algum socorro e, se estivermos de acordo, poderemos mandar mensalmente essa esmola. A senhora a quem deve ser enviado o vale do correio chama-se D. Leonor Angélica Cardoso de Lemos... reina naquela casa um muito bom espírito e só a Ordem de São Domingos e Nosso Senhor têm feito com que elas perseverem. Deus há-de recompensar-nos se as ajudarmos, de alguma maneira.»
Mais tarde, D. Manuel de Bastos Pina, Bispo de Coimbra, a cuja diocese estava ligada Aveiro, renovou o pedido. D. Teresa de Saldanha anuiu ao pedido do Prelado. Fez muitos melhoramentos no edifício e as Irmãs Dominicanas vieram para Aveiro em Outubro de 1884. Assumiram a direcção do colégio, incumbindo-se da guarda da casa e das venerandas relíquias da sua Santa Padroeira.
Foi primeira Superiora a Madre Maria Inês Champalimaud Duff. Desta santa e bondosa religiosa dependeu o bom andamento da actividade das Irmãs, em Aveiro.
O Prelado acompanhou a acção educativa e caritativa das Irmãs como o atestam as suas cartas a D. Teresa de Saldanha.
O seu objectivo era a educação de meninas. Narra a crónica da altura: «para se encarregar desta nova fundação, visto que de há muito esta senhora, Teresa de Saldanha, costumava gastar os seus rendimentos anuais em obras de beneficência e caridade, fez obras importantes; mandou vir mestras excelentes e, para dirigir o colégio, mandou vir de Benfica algumas senhoras da sua confiança.» A mesma cronista continua: «O colégio de Santa Joana adquiriu novo alento, sendo frequentado por um grande número de crianças.» Além das internas havia «uma aula gratuita para os filhos do povo, frequentada por 180 crianças.» Acerca desta fundação, testemunha um ilustre aveirense, D. João Evangelista de Lima Vidal: «Entre as mais amplas beneficências que a sociedade e a religião ficaram devendo em Portugal à Fundadora das Irmãs Terceiras Dominicanas, figurará sem dúvida a fundação do Colégio de Santa Joana, na cidade de Aveiro.»
D. Teresa de Saldanha sentia uma peculiar alegria nesta fundação. Por um lado, era mais um convento dominicano, e este com uma evocação muito especial, que conseguia recuperar, libertando-o de outras mãos, de outros fins; por outro lado, sentia que mais jovens e mais crianças, bem como a população da zona, seriam abrangidas pelo seu projecto evangélico.
Em 1901, esta casa foi perturbada por grupos revolucionários, mas continuou a sua missão até 1910. A Madre Teresa de Saldanha, no ano de 1904, foi recebida em Aveiro com imensa alegria, demorando-se oito dias para ver as Irmãs e animá-las com a sua presença que inspira um santo fervor e desejo de fazer cada vez mais por Nosso Senhor; vendo o bem que por ali se faz com o pensionato e com o externato. A Comunidade era constituída por 28 Irmãs.
Em 1910 as Irmãs viram-se forçadas a sair deste convento e da cidade, onde regressaram, em nova fundação, quarenta e três anos depois. Ao convento nunca mais voltaram.
Teresa de Saldanha faleceu a 9 de Janeiro de 1916, após sofrer a perseguição, a espoliação e a expulsão com a revolução de 1910. Porque manteve a serenidade, a esperança e a fé teve o gozo de ver a sua obra nascer noutros países.
Flávia Dores