Antes e depois de terem ganho as eleições, os socialistas multiplicaram-se em declarações salientando a importância da economia e o mero carácter instrumental do problema do défice das contas públicas. Após as primeiras medidas de contenção orçamental, decorrentes da "surpresa" do relatório Constâncio, surgiu o anúncio de grandes investimentos, para animar a malta. Ora a economia está de novo em foco, não por causa da Ota ou do TGV (que não parecem suscitar grande entusiasmo, pelo contrário), mas pelos piores motivos o Banco de Portugal traçou na semana passada um quadro negro da economia portuguesa.
Não são apenas as revisões em baixa do crescimento económico. Crescimento que se aproxima do zero, depois da recessão e da falhada retoma. O pior está na incapacidade para produzir e competir. As exportações de bens perderam 4% de quota de mercado em 2004. O consumo das famílias aumentou muito no primeiro semestre do ano passado, descendo a poupança. Mas a produção interna não respondeu. Resultado subida em flecha das importações. Depois o consumo esmoreceu e economia estagnou.
Entretanto, o rendimento disponível dos portugueses lá vai subindo alguma coisa, apesar de ter abrandado o crescimento dos salários. As transferências do Estado (pensões, subsídios de desemprego, comparticipações em medicamentos, etc.) já representam 28% desse rendimento (nada menos de 46% das despesas públicas são transferências). E depois há o endividamento, que, com o actual juro baixo, tem permitido muitos gastos. Quando os juros subirem será um aperto. E se a produção nacional não for capaz de se tornar competitiva, será o empobrecimento gradual. O nosso nível de vida é insustentável sem um grande salto na produtividade. Para já, não se avista qualquer luz no fundo do túnel.