À PROCURA DO NOSSO RIO
Hoje, proponho um passeio que tanto pode ser perto como longe. Sugiro que se parta à descoberta do nosso Rio Vouga, com paisagens deslumbrantes a desafiarem uma fuga ao stresse. Perto ou longe, ele está sempre à nossa espera para ser admirado e contemplado, sobretudo por olhos pouco habituados à natureza pura, que um rio como o Vouga ainda pode oferecer, por aqui e por ali.
Saia de casa sem meta à vista, para além do rio, e aprecie as belezas das margens do Vouga, que chega a Aveiro à procura do mar, onde quer dormir tranquilamente e tornar-se infinito. Ouça o marulhar cantante das cascatas e sinta o rio, ora apressado ora dorminhoco, à espera de ser mais cantado em prosa ou verso ou registado com cores de artista.
Leve máquina fotográfica, para mais tarde recordar, um caderno para registar um poema que o Vouga lhe possa inspirar, olhos para ver e a alma para ficar inebriada. Vá e não fique sempre agarrado à praia. Há muito mais que ver por aí.Fernando Martins
Um poema de António Correia de Oliveira
RIO VOUGA
Rios do meu País, línguas de prata,
Misteriosas bocas de verdura
Onde sorri a graça das estrelas:
Convosco falo eu que sei a língua
Dessa íntima saudade, que é a vossa,
Por ser a desta terra em que nascestes. ~
Mas só um, de entre vós, fala comigo:
Só um sabe o meu mal, e o vai chorando
Por entre as vivas fráguas que lho lembram.
Só um, vendo cair as minhas lágrimas,
As recolheu em si, piedosamente,
Para as dar a beber aos arvoredos.
E tardou seu andar, só para que elas
Estrangeiras paisagens amargosas
Não vissem, nem corressem pelos mares:
Mas bebidas, assim, pelas raízes
Florescessem na Terra dos Amores,
E fossem parte dela eternamente.
Rios do meu País, milagres de água,
Fundos olhos de moiras prisioneiras
Entre sombrias árvores, olhando,
Só um de vós viu já abrir meu peito:
E, de falar comigo, sabe a lágrimas,
Enrouqueceu a sua voz profunda,
És tu, Vouga sagrado!
És tu, ó rio ~ Português de nascença, e até à morte,
Figura da nossa alma derradeira.
In Antologia