quinta-feira, 14 de julho de 2005

ARGANIL: um pedaço do nosso passado

Rua de Arganil
Arganil, com registo de nascimento anterior à nacionalidade portuguesa (o seu primeiro foral data de 1114 e foi-lhe concedido por D. Gonçalo, Bispo de Coimbra), é um pedaço do nosso passado colectivo e da nossa cultura. A sua beleza é indiscutível, ou não fosse a vila envolvida por serranias a perder de vista, com penhascos de recorte caprichoso a oferecerem-lhe e a oferecerem-nos paisagens inesquecíveis. 
Da sua história, respigamos a necrópole megalítica da Lomba do Canho, que uma guarnição romana ocupou muitos séculos depois, o Mosteiro de Arganil, de que se fala desde 1086, as festas e inúmeros monumentos de épocas diversas, e a gastronomia, de sempre: o cabrito assado, o arroz de miúdos, o pão caseiro e a tigelada, decerto criada no Mosteiro de Folques, no século XVII. 
Logo à entrada, recebe-nos a capela de S. Pedro (dos finais do século XIII), verdadeira jóia do Gótico. Fechada ao público, só pudemos apreciar o seu exterior, o mesmo tendo acontecido com a matriz. Já a igreja da Misericórdia, pequena e bonita, com o seu altar e trono a surpreenderem-nos pela singularidade da beleza que ostentam, encantou-nos. Um órgão de tubos, enorme em relação ao templo, afinado e com óptimo som, como nos testemunhou uma devota residente, e o púlpito de antanho exibem o cuidado com que tudo ali é tratado. 
Arganil foi, para nós, terra de passagem, em busca de aldeias históricas. Mas nem por isso quisemos deixar de apreciar o possível. Vimos, então, na zona mais antiga, ruas estreitas, como mandavam as exigências dessas épocas, com gente que ciranda, por aqui e por ali, como nós, que compra e vende, que descansa em esplanadas olhando o burburinho e o corre-corre de muitos, cruzando pequenas mas acolhedoras praças. 
Passagem obrigatória para quem gosto de coisas do nosso passado colectivo é o Museu Etnográfico de Arganil, paredes-meias com o posto de turismo e integrando a Casa Municipal da Cultura. Este projecto nasceu na Câmara Municipal e teve como finalidade “salvar do esquecimento e do pó (para benefício das gerações futuras) as raízes culturais desta região – os hábitos e os objectos que formam a memória colectiva dos povos da Beira Serra”, como se lê em folheto promocional. 
O espaço museológico é preenchido por diversos temas: O Ciclo da Subsistência (Agricultura e criação de gado), A Vida Familiar (A casa), A Sobrevivência económica (Artes e profissões tradicionais) e Últimas décadas (A agonia da Serra). Existe, ainda, uma área destinada a exposições temáticas temporárias. Depois, e sempre a correr, fomos à cata do Dr. Fernando Vale e de Miguel Torga. 

Fernando Martins

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