Tenho a firme convicção de que muitos portugueses não se aperceberam ainda da crise que Portugal atravessa. Digo-o com profunda preocupação, atento a muitos sinais e até reacções que nos chegam, seja de simples conversas de rua, seja da atitude de vários sindicatos.
Creio que isso é grave, talvez até mais grave que o défice, que o desequilíbrio na nossa balança de transacções e que a recessão produtiva a que assistimos, ano após ano, no nosso país.
Na verdade, convenceram-nos, ao longo de 20 anos, de que éramos ricos, que podíamos gastar, consumir, sem nada, ou pouco, fazer. Chegamos até ao cúmulo de, mesmo não produzindo, termos crédito para gastar. Gastar e não investir. Gastar, na mais plena acepção do termo. Criámos hábitos de luxo, adquirimos postura de gente rica e, acompanhados pela bela paisagem e melhor clima, sentimos estar no paraíso. Com pouco dinheiro, compramos muito, ou até tudo (casa para viver, casa para o fim-de-semana, carro para o trabalho e para o lazer, televisão, computador, roupa, sabe-se lá mais o quê), e, como se isso não bastasse, "compramos" ainda o direito a ter as tais férias de sonho, pagas só no ano seguinte, e em ligeiríssimas prestações. Sem aumentar o rendimento, conseguimos duplicar o nível de despesa e alargar a linha de crédito.
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