Vem-se insistindo, com muita razão, que é tempo de deixar as coisas imediatas e periféricas que ocupam o tempo útil de quem o deve dar ao essencial, e que iludem, muitas vezes, os problemas graves que existem no terreno. Há que prestar atenção, de facto, às “questões de fundo”, como dizia o Presidente da República, pois que elas existem na vida política e social, na vida das comunidades e instituições, na própria vida das famílias e das escolas e que atingem a vida diária das pessoas, às quais parece prestar-se cada vez menos atenção.
Sempre que estas questões se relegam para segundo plano, quaisquer que sejam as razões, os verdadeiros problemas agravam-se e põem os responsáveis à mercê de questões secundárias, de grupos de interesses, de ideólogos aventureiros que vão poluindo os ambientes e turvando as águas de todos, como se tudo fosse apenas seu.
Na pouca atenção às questões de fundo, navegam, com frequência, os partidos políticos. Põem-se de acordo, com relativa facilidade, naquilo que lhes interessa. Não vemos maneira de o fazerem, quando está em causa o bem de todos, e até o sentido de uma democracia equilibrada e respeitadora. Podemos tomar como exemplo o não ter havido ainda acordo, nem coragem, nem vontade, para limpar a Constituição, que é de todos, da carga ideológica e partidária que lhe vem da revolução e está levando a situações discriminatórias e anti democráticas, escandalosas e até prejudiciais para o país. Haja em vista os problemas relacionados com o ensino estatal e o particular e cooperativo. Mas não é caso único. Quando há medo de perder privilégios, é porque não se tem confiança nas capacidades e nas razões próprias e é mais fácil viver de favores e de conquistas do passado, do que de propostas válidas no presente e para o futuro.
As questões actuais relacionadas com a Europa, hoje tão faladas e sofridas, escondem outras bem mais profundas, a identidade nacional, o respeito pela história e cultura de cada povo, a atenção positiva às minorias, nacionais ou étnicas, a subordinação aos grandes, a imposição de decisões e soluções, à revelia de quem tem sempre de as cumprir…
Questões diversas que não movem a vontade de as encarar, porque a dimensão económica, importante mas muitas vezes limitativa, é suficientemente exigente, e pesada para permitir perda de tempo com aspectos meramente humanos e culturais, considerados, pelas mentalidades vazias ou interessadas noutras coisas, mais ou menos como folclore de valor reduzido.
Há, ainda, a impedir e a dificultar a vivência normal e feliz das famílias e o seu direito de o serem com valores e projectos próprios e sem constrangimentos do exterior, leis impostas por maiorias políticas ou arranjos ocasionais, que destruíram a sua força e põem em risco, permanente e grave, o nosso tecido social.
Questões graves na orientação dada à educação e ao ensino, pensada por tecnocratas burocráticos, que faz arrepiar as pessoas mais sensatas, essas mesmas que vivem o dia a dia destes problemas, mas que ninguém as ouve nem considera, mormente se cheira que não andam pelos caminhos dos partidos no poder.A superficialidade reinante, os interesses diversos, as manobras ocultas com favores aceites, a comunicação social muitas vezes alienada, não favorecem o dever de pôr em primeiro lugar as questões de fundo, por vezes fora do horizonte diário de quem decide.
Encará-las, nos campos em que subsistem, é prova de inteligência, mas também de coragem e de responsabilidade, frente ao mais necessário, que deve ser sempre o mais urgente e decisivo.