segunda-feira, 13 de junho de 2005

Morreu ÁLVARO CUNHAL

Aos 91 anos de idade, morreu hoje Álvaro Cunhal, provavelmente o mais mítico político português dos últimos 50 anos. Comunista desde os 17 anos, cedo assumiu a luta pelo socialismo radical, numa perspectiva de o implantar, em Portugal, como única forma, em seu entender, de promover a justiça social entre nós. Independentemente das suas ideias de um projecto político que não aceitava a diversidade partidária (tal como se verificava na ex-União Soviética que fielmente seguia), num plano democrático que mais se coadunava e coaduna com as tradições de respeito pelas convicções dos povos ocidentais, não posso deixar de reconhecer que Álvaro Cunhal foi, sem dúvida, o mais coerente dos dirigentes políticos das últimas décadas, pela maneira intransigente como sempre defendeu os seus ideais, mesmo depois da implosão do comunismo e da queda do muro de Berlim. Foi preso, torturado, perseguido, viveu na clandestinidade e lutou pela liberdade em Portugal e por uma justiça social, a seu modo, merecendo-me, por isso, todo o respeito, apesar de não ser seu seguidor. Pessoalmente, estou convencido de que Álvaro Cunhal não deixou de reconhecer que o comunismo, como sempre o viu e procurou implantar, deixou de fazer sentido nas sociedades ocidentais e até no mundo, por força da incapacidade ou dificuldade de alguns partidos defensores do socialismo extremista em se adaptarem à democracia pluralista. Mas nem assim defraudou os seus seguidores e os que nele viam um “profeta” da justiça social e da igualdade entre todos os homens, numa sociedade sem classes e sob a liderança do proletariado. Foi uma figura carismática, um líder com capacidade para arrastar multidões, um intelectual de grande cultura, um artista (desenhador e escritor) muito sensível, um político com enorme capacidade de adaptação às circunstâncias, um homem coerente até ao fim da vida, face às ideias que desde a juventude aceitou e assumiu, apoiadas num marxismo-leninismo inflexível, que o povo português, na sua grande maioria, nunca aceitou. Fernando Martins

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