tem de ser recriada
Prosseguiu hoje, no Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro, o Congresso Eucarístico Diocesano. O encerramento será amanhã, no Parque Infante D. Pedro, a partir das 14.15 horas, sob a presidência de D. António Marcelino, que também comemora as Bodas de Ouro sacerdotais. Estão convidados, por isso, todos os diocesanos.
As conferências deste segundo dia do Congresso – “Eucaristia e compromisso social” e “Eucaristia num mundo secularizado” – foram apresentadas, respectivamente, pelo doutor José Dias da Silva, membro da Comissão Nacional Justiça e Paz e especialista em Doutrina Social da Igreja, e pela teóloga Maria Isabel Varanda, doutorada pela Universidade Católica de Lovaina.
Para José Dias da Silva, não há verdadeiro culto a Deus sem justiça social e não basta rezar para sermos justos. “A paz com o irmão é mais importante do que o culto que possamos prestar a Deus”, disse.
Para o conferencista, Jesus Cristo identifica-se mais com os desprotegidos, de tal modo que a Sua doutrina é “uma denúncia profética das injustiças”. Ele é também o grande sinal de Deus na luta em favor das grandes causas. Nessa linha, o cristão deve ser sinal visível do Senhor, sendo “promotor da comunhão, da paz e da fraternidade”.
Ao falar da Eucaristia, José Dias da Silva sublinhou que ela é, verdadeiramente, “projecto de solidariedade em prol da humanidade inteira”, e não apenas das comunidades cristãs, mas ainda fonte de amor que implica o compromisso de construção de um novo Céu e de uma nova Terra. Por outro lado, frisou que “a cultura da doação tem de ser recriada”.
Lembrou que a vivência da Eucaristia, por cada um de nós, no dia-a-dia, pode comprovar-se “no modo como compartilhamos com os pobres”, tendo acrescentado que, no fim de cada missa, “não podemos ficar em paz, mas inquietos”, tornando-se urgente “propagar o Evangelho e cristianizar a sociedade”.
Entretanto, lembrou que a solidariedade “não é um sentimento vago” e que “todos somos realmente responsáveis por todos”. E a propósito do comportamento dos cristãos na nossa sociedade, maioritariamente católica, face às dificuldades que o País atravessa, denunciou que “todos aceitam a crise, desde que sejam os outros a pagá-la”.
O Espírito Santo não faz
nascer de novo uma vontade
que Lhe resiste
Para Maria Isabel Varanda, o nosso tempo está marcado por um espírito de ressentimentos e de sobressaltos, sobressaindo a sacralização do individualismo. Descobrimos que somos capazes de sondar o espaço infinito, mas incapazes de humanizar a sociedade. Para o homem de hoje, “Deus tornou-se insignificante”, enquanto vamos perdendo “o sentido profundo do outro”.
O mundo dos nossos dias está carregado pelos “fardos da abundância”, ao mesmo tempo que “a vida espiritual tende a diluir-se”. O individualismo desenfreado leva a pessoa a procurar o seu bem-estar pessoal, que se sobrepõe a tudo, disse a conferencista.
Isabel Varanda denunciou que “a lógica economicista se impõe à solidariedade”, referindo que, apesar de tudo, “Deus não morre, mesmo nos homens que se consideram deuses”.
Em nome da liberdade, “desembaraçamo-nos de Deus”, mas nem por isso “somos mais felizes”. Salientou que, “enquanto vamos perdendo Deus, perdemo-nos uns com os outros”. No entanto, continua a existir no humano “o desejo de infinito”.
Para a conferencista, “a mensagem cristã não é incompatível com o mundo moderno”. E nessa linha, garantiu que, em cada um dos nossos gestos, como cristãos, “o mundo se renova ou se destrói”. Adiantou, entretanto, que os homens de hoje “têm dificuldades em bater à porta de Deus” e que “o Espírito Santo não faz nascer de novo uma vontade que Lhe resiste”.
Fernando Martins