Observando os comportamentos dos alunos que participam em intercâmbios escolares, conclui-se que desenvolvem determinadas competências e atitudes muito mais rapidamente que outros que não se vêem confrontados com tais parcerias. De facto, assim, ampliam as suas competências de sociabilização, de autonomia e de literacia.
Ultimamente, do vocabulário empresarial, chegou à Escola a ideia de competência, que, a nível internacional, se distribui por três categorias:
1. Interagir em grupos socialmente heterogéneos, o que é bem visível em intercâmbios escolares, no mesmo país, ou noutro.
Quando se viaja para outra Escola, ou quando se recebe alguém no nosso ambiente escolar, num período de tempo relativamente alargado, alunos e professores desenvolvem, sem dúvida, uma série de atitudes e constatam inúmeras características que os unem e distinguem, simultaneamente. O mesmo sucede com as famílias que alojam colegas dos seus educandos. Um exemplo concreto prende-se com os hábitos alimentares.
Confrontados com a alimentação de outro país ou lugar, não só aprendemos a gostar do que é nosso, como também descobrimos a capacidade de apreciar outros paladares. Com a arquitectura e a natureza passa-se o mesmo. Ficamos mais atentos ao que nos é mostrado ou ao que mostramos, para depois tomarmos consciência do que nos é próprio.
Outro aspecto interessante relaciona-se com a necessidade de cooperação e resolução de conflitos. Rapidamente, os participantes neste tipo de intercâmbios descobrem características que os unem e aspectos que lhes desagradam. A solidariedade face a um problema e a urgência em resolvê-lo, para que a reunião não seja um fracasso, são aprendizagens que se concretizam.
2. Agir autonomamente é uma das competências que se pede aos participantes em intercâmbios. Este aspecto deve ter sido desenvolvido a priori, mas é in loco que é posto em prática.
3. Usar instrumentos como as Línguas, a literacia e as TIC é a terceira categoria a ter em conta. Aqui, nota-se que o domínio da Língua Materna e de uma ou duas Línguas Estrangeiras tem de ser praticado. De facto, no final de alguns dias de comunicação, os alunos manipulam com maior facilidade a Língua Estrangeira, porque a necessidade lhes aguçou o engenho. Aqui, relembro algumas crónicas e outros artigos que apontam o dedo às Escolas Portuguesas, por não promoverem a exposição oral e a destreza da argumentação.
Não posso concordar totalmente com tais artigos. Se, por um lado, há muitos Programas disciplinares – não vou fazer uma lista, que seria fastidiosa, pois são quase todos – que preconizam a apresentação oral e o debate; por outro, nos intercâmbios, os alunos e professores preparam apresentações, na maior parte das vezes, em várias Línguas Estrangeiras, servindo-se das TIC.
Por fim, talvez o mais importante destes intercâmbios resida na consciência da nossa “portugalidade”. A ideia que os outros têm de Portugal depende da ideia que nós transmitimos de Portugal. Parece demagogia, mas não é.
De facto, há anos que faço a mesma experiência: quando se começa um trabalho de parceria com países da União Europeia, a maior parte dos alunos e professores têm uma ideia bizarra de Portugal: é uma província de Espanha e a língua que falamos é o castelhano. No final dos intercâmbios, confessam-nos que, afinal, mudaram a ideia que tinham de Portugal! Para melhor!