Proclamar sempre a esperança, mesmo quando o barco está a afundar-se? Dizer aos músicos que continuem a puxar pelos arcos do violino para que os passageiros se não apercebam da tragédia? Ou contar a história real para que se salve o possível, mesmo em pranto, em vez de tudo se perder sob alegres falsetes duma melodia alienante?
Não estamos bem quanto a contas de família. A afirmação não vem dos críticos azedos que nada mais sabem dizer. Vem de técnicos, de contas rigorosas de somar e diminuir, que nada têm a ver com a nossa fraqueza geral em matemática. O deve e haver do nosso país face ao mundo económico é negativo. E grave.
Acho graça aos cronistas diários das bolsas que, com frequência, acusam o PSI-20 ou Nasdaq, de sentimento negativo. Cá está o outro dado. As contas não são tão frias quanto parecem. Têm sentimento – diz-se. E esse sentimento traduz-se em estimular ou desestimular o investimento, a compra ou venda, o negócio que se faz com a tal esperança de que do outro lado exista alguma animação para entrar na acção e no risco. Ou seja: em economia – dizem alguns – nunca se deve mandar calar os violinos, mesmo que o barco tenha rombos sérios e previsões ajuizadas de que pode afundar-se. A movimentação descontrolada dos passageiros pode acelerar a tragédia. A depressão nunca produz bons efeitos.
O dono do Café, o pequeno empresário, o trabalhador médio, o pequeno gerador de economia, não se revêem na lei da oferta e da procura, nem lêem os relatórios dos técnicos do Banco de Portugal ou da Mongólia. Sentem a vida a desandar ou a equilibrar-se, entre as queixas que fazem nos seus jogos de negócio, tal como um jogador de futebol que se faz magoado sem ninguém lhe tocar. Ou cai lesionado mas ninguém acredita porque o queixume faz parte da função negocial.
Em que ficamos? A economia é um planeta à parte, com a sua gramática, técnica, sedução, ilusão, engano e resultados ocultos? Ou uma actividade que se integra num todo da comunidade, para ela voltada e não apenas para o proveito individual de cada uma das quintas que cada qual, de costas voltadas para o mundo, procura cultivar?
Daí a pergunta: em economia, o que é realmente a esperança?